O ano de 2023 foi considerado o mais quente já registrado, com temperaturas globais aproximando-se do limite de 1,5 °C. Em 2024, o mês de fevereiro foi considerado como o mais quente de que se tem registro, com temperatura média 1,8 °C acima da era pré-industrial.
A biodiversidade da vida selvagem sofreu uma redução preocupante de 69% desde 1970 e já foram ultrapassados seis dos oito limites planetários cruciais para a estabilidade da Terra (dados do climate techs Report 2024, da Dealroom). Esses são apenas alguns dados que concretizam a urgência de soluções que aplaquem o aquecimento global e a mudança climática no planeta.
O que é uma climate tech?
Uma climate tech ou tecnologia climática, é uma startup que se dedica a desenvolver e aplicar soluções tecnológicas para mitigar efeitos das mudanças climáticas, reduzir emissões de gases de efeito estufa e promover práticas sustentáveis em diferentes setores da economia.
O escopo de atuação das climate techs é vasto e diversificado, abrangendo setores como energia renovável, transporte sustentável, agricultura de precisão, gestão de resíduos, monitoramento ambiental, construção verde, reflorestamento e muito mais.
São utilizadas uma variedade de tecnologias, incluindo inteligência artificial, internet das coisas (IoT), análise de dados, energias renováveis, biotecnologia e outras para desenvolver soluções inovadoras que possam enfrentar os desafios ambientais de forma eficaz e escalável.
As principais soluções de clima
As soluções das climate techs são diversas e inovadoras, abrangendo uma ampla gama de áreas e setores da economia. Aqui estão algumas das principais soluções desenvolvidas por essas empresas:
- Energia renovável: desenvolvimento de tecnologias para gerar energia limpa e renovável, como solar, eólica, hidrelétrica, biomassa e geotérmica. Criar sistemas eficientes de captura e armazenamento de energia, bem como soluções para integração de energias renováveis na rede elétrica.
- Eficiência energética: soluções para aumentar a eficiência energética em edifícios, transporte e processos industriais. Isso inclui tecnologias de monitoramento e controle de consumo de energia, sistemas de iluminação LED, isolamento térmico, sistemas de refrigeração e aquecimento eficientes, entre outros.
- Agricultura de precisão: tecnologias para otimizar a produção agrícola, reduzindo o uso de insumos como água, fertilizantes e pesticidas. Isso inclui sistemas de monitoramento por satélite, drones e sensores remotos para mapeamento e análise de culturas, sistemas de irrigação inteligente, robótica agrícola e cultivo em ambientes controlados.
- Reflorestamento e agroflorestas: desenvolvimento de soluções baseadas na restauração de ecossistemas degradados, podendo combinar cultivo de árvores com atividades agrícolas e pecuárias, o que beneficia a biodiversidade, o solo e o clima. Essas soluções ajudam a capturar carbono da atmosfera, melhorar a qualidade do solo, conservar a água e fornecer habitats para espécies silvestres.
- Gestão de resíduos: gerenciamento eficiente de resíduos, incluindo reciclagem, compostagem, tratamento de águas residuais e recuperação de recursos. Isso reduz a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários, minimiza a poluição e promove a economia circular.
- Mobilidade sustentável: tecnologias para promover formas de transporte mais limpas e eficientes, como veículos elétricos, compartilhamento de carros e bicicletas, sistemas de transporte público inteligente e infraestrutura de recarga e armazenamento de energia para veículos elétricos.
- Monitoramento ambiental: soluções para monitorar e avaliar a qualidade do ar, da água e do solo, bem como a biodiversidade e os ecossistemas. Isso inclui sensores e dispositivos de monitoramento remoto, sistemas de análise de dados e modelagem ambiental para prever e minimizar impactos ambientais.
O papel das climate techs
O surgimento e a crescente importância das climate techs estão intrinsecamente ligados à crescente conscientização global sobre os impactos negativos das atividades humanas no meio ambiente e no clima do planeta.
À medida que as evidências científicas se acumulam e os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e intensos, há uma urgência cada vez maior em adotar medidas concretas para mitigar esses efeitos e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Nesse contexto, as startups do clima surgem como agentes de mudança, buscando não apenas encontrar soluções para os desafios ambientais, mas também transformar essas soluções em negócios viáveis e economicamente sustentáveis. Essas empresas impulsionam o desenvolvimento econômico e a criação de empregos em setores-chave da economia verde e também respondem às demandas por inovação e sustentabilidade para a segurança da vida sobre a Terra.
As mudanças climáticas e o papel das climate techs
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade no século XXI. Esse fenômeno refere-se às alterações em longo prazo nos padrões climáticos da Terra, causadas principalmente pela atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis, desmatamento, agricultura intensiva e outras práticas que aumentam as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Uma das principais consequências das mudanças climáticas é a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, tempestades e inundações. Esses eventos afetam a infraestrutura, os meios de subsistência e a saúde humana, especialmente em áreas urbanas e regiões vulneráveis.
No contexto urbano, as alterações climáticas estão exacerbando os desafios existentes, incluindo o aumento das temperaturas, a poluição do ar e a vulnerabilidade das infraestruturas essenciais. Um exemplo disso são as chuvas que ocorreram no Rio Grande do Sul, afetando 388 dos 497 municípios do RS e deixando o estado em situação de calamidade.
Outro ponto é a série de problemas de saúde pública, como doenças relacionadas ao calor e problemas respiratórios. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as mudanças climáticas atualmente resultam em aproximadamente 150 mil mortes anuais. Estima-se que esse número aumentará para cerca de 250 mil por ano entre 2030 e 2050, devido principalmente a condições de desnutrição, incidência de malária, casos de diarreia e exposição ao estresse térmico.
O que muitos não sabem é que as mudanças climáticas também intensificam doenças tropicais. O estudo recém-publicado no portal Scientific Reports da Nature, “Mudanças climáticas, anomalias térmicas e a recente progressão da dengue no Brasil”, aponta que as mudanças do clima estão exacerbando a incidência de doenças tropicais, como a dengue, ao promoverem condições ambientais favoráveis para a proliferação dos vetores.
O aumento das temperaturas associado a eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e períodos de seca, está impulsionando a expansão geográfica dessas doenças.
Além disso, as alterações climáticas podem afetar diretamente a produção agrícola e a segurança alimentar em todo o mundo devido ao aumento da temperatura, a alteração dos padrões de precipitação e outros fatores que desestabilizam a disponibilidade de alimentos. Junto a isso, existe o risco de espécies de animais e algas marinhas que não sobreviveriam à exposição a temperaturas mais elevadas.
É importante reconhecer que as mudanças climáticas não afetam todos igualmente. Populações vulneráveis, como os povos indígenas e comunidades de baixa renda, são frequentemente as mais atingidas pelos impactos das mudanças climáticas, devido a uma série de fatores, incluindo desigualdades sociais, econômicas e políticas.
O mercado de climate techs
De acordo com a plataforma A Economia B: “Estima-se que existam cerca de 44.600 climate techs no mundo. Segundo análises da Dealroom, uma plataforma de dados sobre o mercado de tecnologia, o valor empresarial combinado das startups globais de tecnologia climática alcançou US$ 2,6 trilhões em 2023. Nos últimos dez anos, esse ecossistema aumentou seu valor combinado em 60 vezes.”
Já o capital de risco global direcionado para o clima cresceu aproximadamente 40 vezes nos últimos 10 anos: “O estudo [The climate tech Opportunity, realizado pela Universidade de Oxford] aponta que somente entre 2021 e 2022, o investimento global nessa área cresceu 89%. Isso significa que mais de 3 mil aportes foram realizados e mais de US$ 70 bilhões foram investidos em climate techs no período”.
O potencial brasileiro para soluções de climate techs é gigante. A vastidão de recursos naturais pode alimentar a economia verde e reduzir ainda mais a dependência de fontes de energia não renováveis. A diversidade biológica pode ser explorada de maneira sustentável para a produção de materiais de base biológica, como biocombustíveis, biofertilizantes, biomateriais e produtos farmacêuticos. A extensão territorial possibilita uma presença forte no mercado de carbono, atrelado à reconstrução de áreas desmatadas.
Olhando para o futuro a partir do cenário atual, a tendência é que esse mercado continue crescendo devido às emergências climáticas que se tornam cada vez mais incidentes e intensas. A busca por soluções que diminuam os efeitos da alteração do clima será ampliada tanto por governos, quanto por empresas e instituições.
O aumento da conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas e da degradação ambiental tem levado a um crescente apoio à transição para uma economia verde. Isso gera demanda por produtos e serviços que minimizam o impacto ambiental, criando um ambiente favorável para o crescimento de startups e empresas que oferecem soluções que auxiliam a frear o aquecimento global.
Cases de climate techs
Agroforestry Carbon
A Agroforestry Carbon atua como uma plataforma ESG que facilita a conexão entre pequenos produtores agrícolas e empresas interessadas em compensar suas emissões de carbono. Por meio de planos de assinatura e serviços complementares, como Inventário GEE e calculadora de CO₂, a empresa viabiliza o financiamento de atividades de plantio e manejo de árvores por parte dos produtores, promovendo, assim, a agrofloresta e contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Em 2021, a Agroforestry Carbon recebeu um investimento inicial de R$ 300 mil da Regenera Ventures, que foi responsável por colocar a startup de pé. Em fevereiro deste ano, a agtech lançou uma nova rodada de captação para expandir ainda mais suas operações e impacto. Saiba mais sobre a rodada clicando no banner abaixo.
Umgrauemeio
A Umgrauemeio desenvolveu a Pantera, uma plataforma para traduzir os fundamentos do combate a incêndios em soluções tecnológicas. A startup utiliza tecnologia de ponta, incluindo inteligência artificial e câmeras de alta resolução, para detectar incêndios florestais em estágio inicial. Seu sistema oferece uma resposta rápida e eficaz, permitindo a identificação instantânea de fumaça e atividades humanas próximas a áreas de floresta e plantações.
A startup já recebeu um total de US$ 5,3 milhões em aportes, sendo US$ 3,6 milhões captados em março de 2024, de acordo com os dados do Crunch Base. O investimento de março foi sua primeira rodada de captação e contou com Indicator Capital e Baraúna Investimentos como investidores.
Moss Earth
A Moss Earth é uma plataforma ambiental focada no desenvolvimento de abordagens inovadoras para buscar um ambiente sustentável. A empresa usa tecnologias avançadas, como inteligência artificial, big data e blockchain para oferecer uma plataforma que agiliza todo o ciclo de créditos de carbono, desde a origem até o offsetting.
A solução permite uma análise precisa e rápida do potencial de geração de créditos de carbono em áreas específicas, proporcionando maior eficiência e transparência no processo. Além disso, a Moss também oferece serviços de monitoramento e verificação em tempo real, garantindo a legitimidade das compensações ambientais.
A Moss já recebeu um valor total de financiamento de US$ 13,4 milhões. A última captação foi em janeiro de 2022 com uma rodada Series A, o valor aportado foi de US$ 10 milhões tendo como investidores líderes Acre Venture Partners e SP Ventures, de acordo com o Crunh Base.
Bom para o planeta, bom para os negócios
Uma climate tech não é apenas uma empresa tecnológica comum, ela representa um segmento em ascensão dentro do panorama tecnológico contemporâneo, focado não apenas em inovação, mas também em enfrentar um dos desafios mais prementes de nosso tempo: as mudanças climáticas e a sustentabilidade ambiental.
Em suma, as mudanças climáticas representam uma ameaça existencial que exige uma resposta global e coordenada, e as climate techs trazem soluções para mitigar os impactos de forma eficaz a partir de tecnologias. Além de desenvolverem produtos e serviços que otimizam a mitigação e adaptação às alterações do clima, elas fazem isso de forma escalável e rentável.
Dito isso, as climate techs tendem a atrair mais investimentos nos próximos anos devido à alta demanda criada pelo aquecimento global acelerado. O Brasil, possuidor de diversas vantagens para o desenvolvimento de startups dessa tese, tem a chance de sair na linha de frente desse mercado global.
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