Nos últimos 25 anos, a biotecnologia no agro tem desempenhado um papel crucial na modernização e no crescimento do agronegócio brasileiro. Um estudo da CropLife Brasil e da Agroconsult aponta que as inovações biotecnológicas resultaram em uma receita adicional de R$ 143,5 bilhões para o setor nesse período, impulsionando a produtividade, trazendo custos e fortalecendo a competitividade do Brasil no mercado global.
O que é biotecnologia no agro?
A biotecnologia no agro tem desempenhado um papel cada vez mais relevante no avanço da ciência e no desenvolvimento de soluções inovadoras para diversos setores da sociedade. Seu conceito remonta a 1919, quando o engenheiro agrícola húngaro Károly Ereky utilizou o termo pela primeira vez para descrever a aplicação de processos biológicos na produção industrial. Desde então, a biotecnologia evoluiu significativamente, abrangendo áreas como saúde, agricultura, meio ambiente e energia sustentável.
De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, a biotecnologia é definida como a aplicação de “sistemas e organismos vivos” para desenvolver ou modificar produtos e processos. Em termos simples, trata-se da convergência entre tecnologia e ciências da vida para gerar inovações que beneficiam a sociedade e o meio ambiente.
No agronegócio não é diferente. Seu impacto se reflete na melhoria da produtividade, na sustentabilidade da produção e no desenvolvimento de soluções inovadoras para desafios como segurança alimentar, resistência a pragas e mudanças climáticas. A aplicação da biotecnologia no agro permite o desenvolvimento de culturas mais resistentes, a otimização de insumos agrícolas e a redução do impacto ambiental.
Tendências em biotecnologia no agro que vão ganhar força
A biotecnologia no agronegócio abrange desde a edição genética de rebanhos para a criação de animais mais resistentes a doenças até o uso de microrganismos para promover a saúde do solo. A seguir, destacamos as das principais aplicações da biotecnologia que tendem a crescer no agronegócio devido o atual cenário global.
Agricultura regenerativa focada no microbioma
Dentro do escopo da agricultura regenerativa, existe os estudos sobre o microbioma do solo que têm demonstrado a importância dos microrganismos na fertilidade e saúde das lavouras. A biotecnologia permite a manipulação dessas comunidades microbianas para melhorar a absorção de nutrientes, reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos e aumentar a resiliência das plantas. Um exemplo prático é a fixação biológica de nitrogênio, realizada por bactérias que convertem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pelas plantas, reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados.
Essa abordagem atende a crescente demanda global por alcançar economias mais verdes e sustentáveis, sendo um alvo de investimento por vários países. Além de um grande aliado para a diminuição da produção de gases de efeito estufa, a agricultura regenerativa é também um ramo de negócio em si, um mercado mundial de US$ 10 bilhões (R$ 47,7 bilhões) com previsão de crescimento médio anual na casa de 16% até 2033, segundo a pesquisa “Regenerative Agriculture Market” (Mercado da Agricultura Regenerativa), produzida pelo escritório de business intelligence Evolve, da Índia; (Um só Planeta).
Esse tipo de inovação também tem um papel crucial na segurança alimentar global. Com a capacidade de produzir mais alimentos de maneira mais sustentável, podemos atender às necessidades de uma população crescente, ao mesmo tempo em que preservamos os recursos naturais.
Bioinsumos e biopesticidas
A substituição de fertilizantes e defensivos químicos por bioinsumos é uma tendência crescente no setor agropecuário. Os biofertilizantes, produzidos a partir de microrganismos benéficos, melhoram a absorção de nutrientes pelas plantas e promovem a regeneração do solo. Já os biopesticidas, desenvolvidos com bactérias, fungos e vírus naturais, atuam no controle de pragas e doenças, reduzindo os impactos ambientais e a contaminação de alimentos.
Além dos benefícios ambientais, o uso de bioinsumos e biopesticidas também impulsionou a eficiência econômica do produtor rural, reduzindo a dependência de insumos químicos importados e promovendo maior equilíbrio biológico nas atividades. De acordo com o estudo da Croplife, o mercado global de bioinsumos está projetado para atingir US$ 45 bilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual entre 13% e 14%. No Brasil, a adoção dessas soluções tem sido ainda mais acelerada, com um crescimento médio anual de 21% nos últimos três anos. Apenas na safra 2023/2024, o setor movimentou R$ 5 bilhões, consolidando-se como um dos principais mercados para biofertilizantes, bioestimulantes e biopesticidas, especialmente os produtos de controle biológico, que representam 57% desse segmento.
Um exemplo de inovação nesse mercado é a SeaCarbon, uma startup brasileira que transforma macroalgas marinhas em bioinsumos agrícolas. A empresa desenvolve biofertilizantes e bioestimulantes a partir de algas como a Kappaphycus alvarezii, promovendo maior eficiência na nutrição das plantas e regeneração do solo, além de contribuir para a captura de carbono.
Melhoramento genético de culturas
O desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas (OGMs) é uma das áreas mais consolidadas da biotecnologia agrícola. Essas culturas são projetadas para resistir a pragas, doenças e condições climáticas adversas, reduzindo a necessidade do uso de agroquímicos e aumentando a produtividade. Além disso, novas técnicas de edição genética, como o CRISPR-Cas9, permitem modificações mais precisas e seguras, acelerando o desenvolvimento de variedades adaptadas às necessidades atuais do setor.
As mudanças genéticas nas culturas já desempenharam um papel crucial no aumento da produção alimentar e na garantia de segurança alimentar ao longo das últimas décadas. Um exemplo notável é o desenvolvimento do trigo e do arroz resistentes a doenças e pragas, como a variedade de arroz “superarroz”, que foi criada para ter maior produtividade e resistência a condições adversas. A Revolução Verde, que ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, também se beneficiou de cultivos geneticamente modificados, como o milho e o trigo de alto rendimento, que ajudaram a alimentar uma população global em rápido crescimento.
Essas inovações possibilitaram uma maior produção em áreas limitadas, contribuindo para evitar crises alimentares em várias partes do mundo. A engenharia genética, ao permitir o desenvolvimento de variedades que utilizam os recursos de forma mais eficiente, ajudou a aumentar a produtividade sem a necessidade de expandir as áreas agrícolas, o que foi essencial para evitar a degradação ambiental e a pressão sobre ecossistemas naturais.
Hoje, com o aumento constante da população mundial juntamente com os grandes desafios enfrentados pelos produtores, devido as mudanças climáticas, o melhoramento genético se torna não apenas um grande aliado, mas também um fator necessário para que seja possível produzir e alimentar a população global sem grandes infortúnios.
Conclusão
O agro tecnológico toma por grande alvo, além do que já é dominante como robôs e Inteligência Artificial, a biotecnologia, que tem se mostrado como uma grande força impulsionadora para alcançar os atuais objetivos e desafios existentes. Desde vieses de sustentabilidade até a alta produtividade, essa inovação já provou ser eficiente e impulsionadora não só do agro, mas também de outros setores importantes da economia.
Direcionar investimentos e impulsionar pesquisas na área, além de apoiar empresas e startups que desenvolvem soluções cada vez mais acessíveis e impactantes, não só representa um excelente retorno financeiro, mas também é uma ação estratégica essencial para acelerar a transição para uma economia mais verde e sustentável. Essas iniciativas não apenas fomentam a inovação, mas também contribuem para um modelo de desenvolvimento mais equilibrado, que alia progresso econômico à preservação dos recursos naturais e ao enfrentamento dos desafios ambientais globais.