Recentemente, a Shell, Raízen e Senai investiram R$ 120 Milhões em um centro de bioenergia para etanol de segunda geração (E2G), com o objetivo de acelerar a transição energética e escalar a produção do E2G, tecnologia brasileira mais sustentável do que o original e que tem um ‘mercado imenso’ (Estadão).
A bioenergia está emergindo como uma das principais soluções para a transição energética no Brasil, apresentando-se não apenas como uma alternativa viável às fontes convencionais de energia, mas também como um caminho sustentável para um futuro mais verde. Mas o que exatamente são os biocombustíveis e como eles podem transformar a matriz energética do país?
O que é bioenergia?
A bioenergia é a energia obtida a partir da biomassa, que se refere a qualquer matéria orgânica de origem vegetal ou animal. Essa forma de energia pode ser convertida em eletricidade, calor ou combustíveis e é uma prática antiga, mas ganhou destaque nas últimas décadas devido à crescente demanda por soluções energéticas sustentáveis.
A principal característica que diferencia a bioenergia das fontes convencionais é sua renovabilidade, que possibilita uma produção contínua, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e contribuindo para a segurança energética.
A biomassa, inclui resíduos agrícolas, florestais, restos de alimentos e culturas dedicadas, como cana-de-açúcar, milho e soja. A biomassa pode ser transformada em diversas formas de biocombustíveis, bioeletricidade ou biocombustíveis sólidos.
Entre os principais tipos de biocombustíveis, temos o etanol, que é produzido a partir da fermentação de açúcares encontrados em plantas, como a cana-de-açúcar e o milho. Outro exemplo é o biodiesel, derivado de óleos vegetais ou gorduras animais, que serve como substituto do diesel convencional. Além disso, há o biogás, obtido pela digestão anaeróbica de resíduos orgânicos, que pode ser utilizado para gerar eletricidade ou como combustível para veículos.
A bioenergia, portanto, representa uma alternativa viável e sustentável para enfrentar os desafios energéticos e ambientais do mundo contemporâneo.
O impacto da bioenergia
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), no ano de 2022, somente a combustão de combustível foi responsável pela emissão de mais de 34 Mt CO2, uma marca alarmante para as metas de sustentabilidade global. Esse nível de emissão reforça a necessidade da transição energética para fontes mais sustentáveis.
Segundo a FGV: “A utilização de biocombustíveis no Brasil evitou a emissão de 26,03 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2 eq.) apenas nos três primeiros trimestres de 2022, o que equivale ao plantio de 63.487 hectares de floresta.”
E o Instituto de Recursos Mundiais (WRI, na sigla em inglês), destacou que: “o uso de energia é responsável por 73,2% das emissões globais de GEE, com 16,2% delas originadas no setor de transportes” (FVG).
O mundo enfrenta um desafio significativo em relação à sua matriz energética, com a maioria das fontes atuais sendo não renováveis e altamente poluentes.
Apenas 14% da matriz energética global é composta por fontes renováveis. Nesse contexto, a bioenergia se destaca por oferecer uma alternativa limpa e renovável, capaz de atender a uma demanda crescente por energia sustentável.
Por outro lado, percebemos que a matriz energética brasileira é mais renovável do que a mundial, destacando o potencial brasileiro em liderar o setor de bioenergia e servir como modelo de transição energética.
Além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a bioenergia promove uma economia circular e reduz o desperdício. A produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, é especialmente relevante para países com extensos recursos agrícolas, como o Brasil, onde há condições favoráveis para o cultivo sustentável dessas fontes.
A produção de biocombustíveis
Conforme citado no Visão Agro do Itaú BBA: “A necessidade de descarbonização das economias fez com que os investimentos nesse setor se expandissem, com aumento da capacidade de produção de biocombustíveis. A principal matéria-prima para a produção de dois dos três biocombustíveis mais fabricados no mundo na atualidade (etanol, biodiesel e diesel renovável) é o óleo de soja. O avanço dos biocombustíveis aumenta o uso de óleo de soja, que por sua vez puxa a demanda pelo grão.”
Esse movimento de mercado, além de estar fomentando a produção e utilização de combustíveis mais sustentáveis, influencia a economia global e os mercados internacionais, como o da soja por exemplo, principalmente em relação a demanda, estoques e preços.
Além disso, existe a transição da produção de etanol de cana para o de milho. De acordo com a Unem, em 2023, a produção de etanol de milho no Brasil representou 19% da produção total de etanol no país e a estimativa é que esse percentual aumente na próxima safra.
O etanol de milho e o etanol de cana-de-açúcar são complementares na produção e não apresentam diferenças para o consumidor final. No entanto, existem algumas distinções no processo produtivo.
O milho apresenta pegada de carbono baixa em comparação às outras fontes e pode ser utilizado o milho de segunda safra, que é cultivado após a soja, não havendo competição entre alimentos e biocombustíveis.
Além disso, o milho de segunda safra contribui para a proteção da terra, reciclando nutrientes, acumulando carbono orgânico e reduzindo a degradação do solo. Ele possui produtividade elevada mesmo em período com condições climáticas inferiores, otimizando assim o uso da terra e possibilitando sistemas de rotação de culturas.
Vantagens da bioenergia
A bioenergia oferece diversas vantagens que a tornam uma alternativa promissora na matriz energética brasileira:
Sustentabilidade: Os biocombustíveis são biodegradáveis e apresentam menor impacto ambiental em comparação com fontes fósseis.
Desenvolvimento regional: Promove o desenvolvimento econômico de regiões rurais, gerando empregos e fortalecendo a agroindústria.
Economia circular e redução de resíduos: Aproveita resíduos agrícolas e industriais, reinserindo subprodutos no ciclo produtivo e reduzindo a extração de novos recursos.
Inovação tecnológica: Estimula pesquisas e inovações que beneficiam o meio ambiente e a sociedade.
Cenário atual dos biocombustíveis e projeções futuras no Brasil
De acordo com o estudo Etanol de milho: cenário atual e perspectivas para a cadeia no Brasil, o consumo de combustíveis no país deve evoluir para todas as fontes apresentadas, com a projeção feita do ano de 2019 até 2029.
O biodiesel lidera com um aumento estimado de 95%, seguido por outros derivados de petróleo (óleo combustível, GLP e querosene), com crescimento de 94%. O etanol também apresenta projeção de alta de 27%, enquanto o diesel e a gasolina devem aumentar 26% e 16%, respectivamente.
Esses percentuais refletem a busca por alternativas mais sustentáveis e alinhadas com metas ambientais, mostrando o papel crescente dos biocombustíveis no país. No entanto, também se nota que, apesar do avanço das fontes renováveis, a dependência de derivados fósseis ainda é uma realidade.
Embora o Brasil esteja avançando na diversificação energética, há um caminho a percorrer para reduzir ainda mais a participação dos derivados fósseis e ampliar o uso de combustíveis limpos e renováveis.
Ainda assim, a posição brasileira no consumo de biocombustíveis é de destaque, conforme mostra o estudo Etanol de Milho. No mercado de biocombustíveis (incluindo etanol, biodiesel, biometano, óleo vegetal hidratado – HVO), Estados Unidos e Brasil se destacam, atualmente, como os dois maiores produtores e consumidores dessas fontes de energia.
Conforme as projeções do estudo baseadas na Agência Internacional de Energia (do inglês International Energy Agency – IEA), o consumo de biocombustíveis poderá aumentar significativamente até 2030, o que exigiria um aumento de cerca de 165% na produção global desses produtos.
Esse cenário aponta para um futuro promissor, mas também exige que o Brasil continue a focar no fortalecimento das cadeias produtivas de biocombustíveis, que é impulsionada por inovações tecnológicas que tornam a produção mais eficiente e menos custosa.
A combinação da experiência brasileira em biocombustíveis com políticas públicas voltadas para a sustentabilidade pode posicionar o país como um modelo global na transição energética, contribuindo para a redução das emissões de carbono e o combate às mudanças climáticas.
Conclusão
Portanto, o futuro dos biocombustíveis no Brasil é favorável, e a continuidade dos investimentos em tecnologia e infraestrutura será fundamental para maximizar seu potencial.
A diversificação das fontes energéticas, juntamente com o fortalecimento das cadeias produtivas, não só atenderá à demanda crescente, mas também posicionará o Brasil como um líder global na transição energética.
Assim, a bioenergia não é apenas uma resposta às necessidades energéticas do país, mas também uma oportunidade para promover desenvolvimento econômico e ambiental, consolidando um futuro mais sustentável.