Inovação verde soluções baseadas na natureza Inovação verde soluções baseadas na natureza

Inovação verde: soluções baseadas na natureza (SbN)

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Conheça as soluções baseadas na natureza e saiba como essas abordagens podem beneficiar o planeta.

Ao trabalhar com a natureza, as emissões de CO₂ podem ser reduzidas em até 11,7 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente, por ano, até 2030, representando mais de 40% do necessário para limitar o aquecimento global.

Atualmente, cerca de US$ 133 bilhões anuais são investidos a soluções baseadas na natureza (SbN), com 86% desse montante proveniente de fundos públicos e 14% de financiamento privado. No entanto, são necessárias mais ações urgentes. Os dados são do relatório State of Finance for Nature produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; o Fórum Econômico Mundial; e a Iniciativa Economia da Degradação da Terra.

O que são soluções baseadas na natureza?

As soluções baseadas na natureza (SbN) representam um conjunto de abordagens e práticas que utilizam ecossistemas naturais como fonte de soluções para desafios ambientais e sociais. Essas soluções são concebidas para restaurar, preservar e gerir os sistemas naturais de forma sustentável, enquanto simultaneamente abordam questões como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, degradação ambiental, poluição, enchentes e escassez de água.

Um dos principais objetivos das SbN é mimetizar os processos e padrões encontrados na natureza para promover a resiliência dos ecossistemas e a vida nas comunidades humanas. Isso pode incluir práticas como reflorestamento, restauração de ecossistemas degradados, manejo florestal sustentável, agrofloresta, agricultura regenerativa e gestão de recursos naturais de forma integrada e holística.

Para além do campo, as SbN contemplam projetos de infraestrutura urbana verde, que são integrações de ecossistemas naturais ou criação de sistemas inspirados na natureza dentro do ambiente urbano. Elementos como parques, áreas verdes e telhados verdes formam sistemas de drenagem que ajudam a gerenciar as águas pluviais, reduzem o efeito de ilhas de calor, melhoram a qualidade do ar e promovem a biodiversidade nas cidades.

Um aspecto importante dessas soluções é sua capacidade de fornecer benefícios adicionais além da simples redução das emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, a restauração de manguezais não só sequestra carbono, mas também protege as comunidades costeiras contra tempestades e inundações, fornece habitat para a vida selvagem e promove a pesca sustentável.

O objetivo das SbN é maximizar os benefícios dos serviços ecossistêmicos, como regulação do clima, purificação da água, proteção contra desastres naturais e fornecimento de alimentos e habitat para a fauna e flora. Ao fazer isso, essas soluções não apenas contribuem para a mitigação das mudanças climáticas, mas também promovem o bem-estar humano e a prosperidade econômica.

Exemplos de soluções baseadas na natureza

As soluções baseadas na natureza englobam uma ampla variedade de abordagens, desde o uso de inteligência artificial avançada com vastos conjuntos de dados e aplicações por drones até métodos mais simples e intensivos em trabalho. Ambos os enfoques buscam promover maior resiliência, uma transição justa e a preservação da biodiversidade em seus projetos.

Soluções dentro das cidades

Telhados verdes: instalação de coberturas vegetadas em edifícios para reduzir o escoamento de água da chuva, fornecer isolamento térmico e promover a biodiversidade urbana.

Parques urbanos: criação de áreas verdes dentro das cidades para proporcionar espaços de recreação, promover a saúde mental e física e contribuir para a redução da poluição do ar.

Sistemas de drenagem verde: implementação de projetos que utilizam vegetação e solos permeáveis para gerenciar as águas pluviais, filtrando poluentes e reduzindo inundações.

Agricultura urbana: cultivo de alimentos em espaços urbanos, como hortas comunitárias, jardins verticais e fazendas urbanas, para promover a segurança alimentar e reduzir a pegada ecológica.

soluções baseadas na natureza no planejamento urbano

Soluções fora das cidades

Restauração de ecossistemas: recuperação de áreas degradadas, como florestas, manguezais e turfeiras, para aumentar a biodiversidade, melhorar a qualidade da água e do solo e capturar carbono da atmosfera.

Manejo sustentável da agricultura: adoção de práticas agrícolas regenerativas, como agroflorestas, rotação de culturas e cultivo sem agrotóxicos, para proteger o solo, conservar a água e promover a resiliência das plantações.

Proteção de áreas naturais: conservação de habitats naturais, como reservas naturais, parques nacionais e áreas de proteção ambiental, a fim de preservar a biodiversidade, garantir o fornecimento de serviços ecossistêmicos e promover o ecoturismo.

Manejo sustentável dos recursos hídricos: implementação de técnicas de retenção de água, como a construção de barragens de água de chuva e a restauração de zonas úmidas, aumentando a disponibilidade e a qualidade da água e prevenindo inundações.

Investimento em soluções baseadas na natureza

Diferente das agtechs e climate techs, as tecnologias da natureza se concentram nos impactos no mundo natural. No entanto, não são soluções excludentes, muitas vezes as agtechs e climate techs utilizam de tecnologias da natureza e caminham juntas.

A Capital for Climate (C4C) identificou as principais soluções passíveis de investimento dividindo em duas categorias: “Soluções Alimentares e Agrícolas” e “Silvicultura, Uso da Terra e Outras NbS”.

mapa de maturidade das soluções baseadas na natureza

Conforme o relatório The Nature Tech Market da Capital for Climate e Nature 4Climate (N4C), juntas, as SbN representam a abordagem mais eficiente em termos de capital para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e retirar carbono da atmosfera. De acordo com o estudo Consultation: Nature and Net Zero realizado pelo McKinsey e outros parceiros em 2021, as SbN têm o potencial de fornecer coletivamente até 33% das reduções de CO₂ necessárias até 2030 para alcançar a neutralidade de emissões líquidas até 2050.

Ainda conforme o relatório da C4C, o investimento em SbN também pode gerar significativos retornos sociais e econômicos. Segundo a The Food and Land Use Coalition, esse investimento poderia resultar em um retorno social de cerca de US$ 5,7 trilhões anualmente até 2030, representando mais de 15 vezes o montante investido, e criar novas oportunidades de negócios no valor de até US$ 4,5 trilhões por ano.

No entanto, se o mundo quiser enfrentar as alterações climáticas e suas consequências e tentar reverter os danos já existentes, o investimento de SbN deve aumentar até quatro vezes em termos reais até 2050, de acordo com o Vivid Economic. Isso equivaleria a um investimento total acumulado de até 8,1 bilhões de dólares e uma futura taxa de investimento anual de 536 mil milhões de dólares.

Desafios específicos das SbN

Assim como toda inovação, as SbN enfrentam desafios de implementação e barreiras que dificultam sua eficácia global. Superar esses desafios exige uma abordagem integrada e colaborativa, envolvendo governos, organizações da sociedade civil, setor privado e comunidades locais. Uns dos principais desafios são:

Financiamento e investimento

O financiamento adequado para as SbN é atualmente insuficiente em relação à demanda necessária para alcançar escopo e escala que produzam resultados significativos. Embora haja interesse crescente por parte dos investidores, garantir financiamento para pesquisa, desenvolvimento e implementação dessas soluções continua sendo um desafio, pois ainda está emergindo como uma prioridade global.

Tecnologia e inovação

Ainda que existam avanços tecnológicos significativos que possam apoiar as SbN, sua adoção e implementação enfrentam desafios, como barreiras técnicas, falta de acesso a recursos tecnológicos e resistência à mudança. Superar esses desafios demanda apoio financeiro, humano e uma coordenação eficaz entre diversas partes interessadas.

Integração com práticas existentes

Integrar SbN com práticas agrícolas tradicionais e sistemas urbanos pode ser complexo. Requer a superação de barreiras culturais, regulatórias e institucionais, incluindo a reconciliação de abordagens tradicionais de gestão de terras com técnicas modernas de restauração e conservação.

Monitoramento e avaliação

Desenvolver métodos eficazes de monitoramento e avaliação é crucial para garantir o sucesso das SbN. Isso inclui o desenvolvimento de indicadores claros, sistemas de coleta de dados robustos e capacidade analítica para avaliar o impacto das intervenções ao longo do tempo.

Educação e conscientização pública

Envolver e educar o público sobre a importância e os benefícios das SbN é fundamental para obter apoio público e político na implementação e conservação das abordagens. Isso pode exigir programas de conscientização, educação ambiental e engajamento comunitário.

Adaptação às mudanças climáticas

As SbN enfrentam desafios adicionais devido aos efeitos das mudanças climáticas, como eventos climáticos extremos e padrões climáticos imprevisíveis que já estão ocorrendo devido ao aquecimento global acelerado. Adaptar e desenvolver soluções resilientes às mudanças climáticas é essencial para garantir a eficácia contínua das SbN.

Tecnologia MRV

Com todas essas metodologias focadas na natureza, cria-se a necessidade de verificar a saúde e a qualidade dos ecossistemas para que se tenha resultados efetivos. Tanto para entender onde e quanto melhorar como para medir o impacto e conservar o que tem sido feito.

Tecnologias MRV são abordagens utilizadas para Medir, Relatar e Verificar aspectos da natureza e realizar uma gestão ambiental eficaz. Para entender e melhorar esse gerenciamento, o MRV não apenas permite estabelecer uma linha de base para a saúde dos ecossistemas, mas também ajuda a determinar o impacto das atividades humanas sobre eles.

O mercado de tecnologia MRV está em constante evolução, impulsionado pela crescente demanda por créditos de carbono pelas empresas que buscam compensar suas emissões. O relatório de 2022 da C4C conta que, de acordo com Forest Trends e Ecosystem Marketplace, o mercado voluntário de carbono já alcançou quase US$ 2 bilhões, um aumento significativo em relação aos três anos anteriores.

Além disso, o Acordo de Paris reforçou o mercado voluntário, estimulando ainda mais a procura por créditos de qualidade.  Os créditos de biodiversidade e os pagamentos por serviços ecossistêmicos (PSA), que são outras formas emergentes e em crescimento de remuneração para a gestão de ecossistemas, também estão se tornando fatores importantes na demanda por MRV.

Os MRV já passaram por muita desconfiança e descredibilidade ao longo dos anos e por isso a tecnologia MRV atual foi projetada para quebrar esse estigma. Melhores padrões, nova ciência, metodologias, abordagens atualizadas e tecnologia de ponta são algumas das ferramentas utilizadas para garantir maior precisão, reduzir custos e aumentar a confiança no MRV.

tecnologias que reduzem o custo do método MRV

Cases brasileiros de SbN

Case urbano

A cidade de Belo Horizonte possui três jardins de chuva, localizados no Parque JK, na Rua Prof. Ricardo Pinto e no Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado. O município agora planeja expandir esse projeto, implementando outros 60 jardins na Bacia do Córrego do Nado, na região norte, por meio de um projeto desenvolvido pela pela Secretaria Municipal de Política Urbana (SMPU), Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi) e pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).

Os jardins de chuva, que atuam como pequenos reservatórios de água, associados a outras soluções de infraestrutura, ajudam na infiltração das águas pluviais, contribuindo significativamente para a gestão da água na cidade.

O Plano Diretor de Belo Horizonte de 2019 identificou 44 áreas com alto risco de inundação e prevê um aumento de 32% nos problemas relacionados a chuvas intensas devido às mudanças climáticas. Para enfrentar esse desafio, a política urbana da cidade foca em melhorar a permeabilidade do solo, estabelecendo 930 km de conexões arborizadas entre áreas verdes, restaurando cursos d’água, criando parques lineares e priorizando pavimentos permeáveis para melhorar a drenagem urbana.

Case no campo

A Agroforestry Carbon é uma startup que ajuda a financiar práticas de agricultura regenerativa. Ela possui uma plataforma que conecta empresas a pequenos produtores que cultivam agroflorestas. A implementação e o manejo de uma agrofloresta são atividades de alto custo inicialmente, então a Agroforestry utiliza do plantio de árvores na cultura para vender créditos de biodiversidade e trazer capital para o produtor plantar mais e cuidar do que já possui.

Por impulsionar o manejo sustentável da agricultura, a Agroforestry é uma startup que utiliza MRV. Ela possui tecnologia de geolocalização para mapear as árvores que produzem os créditos, com as especificações das árvores e, junto a isso, existem os serviços de calculadora de CO₂ e inventário de Gases do Efeito Estufa.

Soluções baseadas na natureza demandam união

As soluções baseadas na natureza (SbN) representam um pilar crucial na luta contra as mudanças climáticas, oferecendo uma maneira eficaz e sustentável de reduzir as emissões de CO₂ e promover a resiliência dos ecossistemas.

No entanto, as SbN vão além da simples redução de emissões; elas englobam práticas que promovem a biodiversidade, melhoram a gestão da água, protegem contra desastres naturais e fornecem benefícios sociais e econômicos significativos, aumentando a qualidade de vida sobre a Terra.

Valorizar os serviços prestados pela natureza fomenta o desenvolvimento de soluções inovadoras e eficazes para construir um futuro mais resiliente e sustentável para todos, e é preciso ter a colaboração de governos, instituições, setor privado e comunidades locais.

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