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Solo: importante para qualquer forma de agricultura, da digital à regenerativa

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Você já se perguntou como é o solo da sua horta, chácara, da praça da sua cidade, construção ou fazenda? Assim como a tipagem sanguínea revolucionou a medicina, entender a tipologia do solo pode transformar a agricultura.

Na agricultura, silvicultura e até mesmo na engenharia civil, muitas decisões são baseadas nas características do solo. Termos como argiloso, arenoso, leve e pesado são comuns. Compras e arrendamentos de fazendas, planejamento do uso do solo em áreas urbanas, planos de adubação, sistemas de irrigação e estratégias de plantio são apenas algumas das decisões fundamentadas na textura ou na quantidade de argila do solo.

Será que esse conhecimento é suficiente para agricultura regenerativa, digital ou para darmos o próximo salto tecnológico tão comentado e requerido pela sociedade? Será que existem perdas invisíveis no solo, base do agronegócio, que não estamos observando ou sequer sabemos que existem?

Diego Siqueira em apresentação sobre a importância do solo

Solo, nosso bem mais precioso na agricultura

Em qualquer parte do mundo, um solo com teor de argila de 20% significa que, para cada quilo de terra, há partículas menores que 0,002 milímetros. No entanto, todas as argilas não são iguais.

A base da agricultura digital, da agricultura de precisão, da agricultura conservacionista, da agricultura orgânica, da agricultura regenerativa e da saúde do solo é o próprio solo, mas ainda não o compreendemos totalmente.

Como antes de 1901, quando desconhecíamos a tipagem sanguínea e prejudicávamos vidas, ainda estamos aprendendo sobre a verdadeira natureza do solo. Quanto mais rápido nos conscientizarmos disso, mais vidas e ambientes iremos ajudar e salvar.

Cada tipo de argila tem um potencial distinto para a agricultura regenerativa e requer pacotes tecnológicos específicos. Por exemplo: qual a melhor fonte de adubo fosfatado para o talhão de uma fazenda? Qual a resposta a compostos orgânicos nesse talhão, alta ou baixa? Qual pacote tecnológico de micro-organismos devo focar neste pedaço de terra, induzir resistência hídrica ou biodisponibilização do fósforo? Qual variedade plantar? Todas essas respostas e muitas outras começam no solo e na tipificação de argilas.

Preservação ambiental e segurança alimentar

Entender o solo é fundamental não só para proteger os biomas, mas também para garantir a segurança alimentar. Uma pesquisa da FAPESP, destacada na reportagem especial “Recompensa no Prato” de 2018 por Fabricio Marques, indicou que os recursos destinados pela Fundação a bolsas, projetos de pesquisa e infraestrutura nos campos da agronomia e agricultura produziram um retorno de R$ 27 para cada R$ 1 aplicado. Esse retorno só é superado pelas universidades públicas, que formam mão de obra especializada com um retorno de R$ 30 para cada R$ 1 gasto.

Para avançarmos na quarta revolução agrícola, precisamos fazer mais com menos, como sugeriu Steven Chu, vencedor do Prêmio Nobel, em entrevista à Forbes. No entanto, como realizar essa revolução se não entendemos o básico da agricultura, o solo?

Em matéria especial da Revista Globo Rural, a jornalista Mariana Grilli entrevistou diferentes cientistas e produtores sobre agricultura regenerativa. A matéria “A terra pede cuidado!”, de 2021, destaca que menos de 5% do território brasileiro possui um mapa de solos detalhado, mostrando suas aptidões e vulnerabilidades para diferentes finalidades.

No dia 12 de outubro, celebramos o Dia do Engenheiro Agrônomo, mas quantos de nós conhecemos o Dia Mundial do Solo, comemorado em 5 de dezembro? Quantos de nós conhecem o ITPS (Painel Técnico Intergovernamental de Solos), análogo ao IPCC focado no clima, e que há mais de dez anos vem falando sobre o problema global de governança e perdas inviáveis do solo?  Ou então a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) e seus núcleos estaduais, como o Núcleo São Paulo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo com sede fixa na UNESP Jaboticabal? A SBCS, há quase 80 anos, vem tentando mostrar a importância do solo tanto para o público do agronegócio quanto para a sociedade em geral em boletins gratuitos, com linguagem didática e informações relevantes sobre solos e funções ambientais da “terra”.

Bill Gates, em seu blog, destacou: “Devemos conversar sobre o solo tanto quanto falamos de carvão. Desejo que a inovação agrícola receba tanta atenção quanto o impacto sobre a mudança climática da eletricidade…”. Essa é uma chamada urgente para reconhecer esse recurso crucial, cujas perdas invisíveis podem gerar problemas em uma escala sem precedentes, semelhante a doenças silenciosas, como diabetes e hipertensão.

Entender e valorizar o solo são ações essenciais para qualquer forma de agricultura, seja ela digital, seja regenerativa ou qualquer outra. Assim como a tipagem sanguínea revolucionou a medicina, um conhecimento profundo sobre o assunto pode transformar a agricultura, garantindo sustentabilidade e segurança alimentar. É hora de pisarmos com consciência no chão que nos sustenta e reconhecermos a sua importância vital para o futuro da humanidade.

Diego Silva Siqueira
Cientista do solo, professor SolloAgro ESALq-USP, embaixador Fundo UNESP-Prospera, co-fundador DeepTech Quanticum

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