A agropecuária e a mudança do uso da terra são dois dos principais emissores de gases de efeito estufa no Brasil de acordo com os dados da SEEG. Tendo em vista a urgente necessidade de mitigação do aquecimento global e seus efeitos climáticos, conhecer e entender sobre abordagens que visam reduzir essas emissões é essencial. Uma das principais estratégias é a implementação da agricultura de baixo carbono, que busca integrar práticas sustentáveis na produção agrícola.
O que é agricultura de baixo carbono?
O Brasil é um país movido pela agricultura que, além de abranger grande parte do solo brasileiro, é proveniente de uma diversidade de cultivos para consumo interno e exportação.
Com a realidade climática atual do planeta, a demanda por práticas sustentáveis em todos os setores de atividades econômicas se torna mais alta, não apenas para minimizar os efeitos do aquecimento global, mas também para tentar reduzir a velocidade com que a temperatura está aumentando.
O aumento da temperatura se dá especialmente pelo efeito estufa, que é alimentado constantemente com a liberação desenfreada de dióxido de carbono (CO₂), gás metano (CH₄), óxido nitroso (N₂O) e ozônio (O₃), que são os principais Gases de Efeito Estufa (GEE).
A agricultura de baixo carbono se trata de um conjunto de práticas e estratégias agrícolas voltadas para a redução das emissões de GEE, enquanto mantém ou aumenta a produtividade das lavouras. Esse conceito é fundamental para enfrentarmos os desafios das mudanças climáticas e promover a sustentabilidade ambiental.
Um dos pilares da agricultura de baixo carbono é a redução das emissões de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, gases que contribuem significativamente para o aquecimento global. Para alcançar esse objetivo, os agricultores adotam técnicas que minimizam a perturbação do solo e maximizam a retenção de carbono.
Práticas comuns na agricultura de baixo carbono
Plantio direto: o sistema de plantio direto é uma técnica que evita o revolvimento do solo. Em vez de arar, os agricultores plantam diretamente sobre os restos das culturas anteriores. Isso ajuda a manter a estrutura do solo, aumentar a matéria orgânica e promover o sequestro de carbono.
Rotação de culturas: a rotação de culturas envolve a alternância de diferentes tipos de plantas em uma mesma área ao longo do tempo. Essa prática melhora a saúde do solo, reduz a incidência de pragas e doenças e aumenta a biodiversidade.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): essa abordagem combina agricultura, pecuária e silvicultura em um mesmo espaço, criando um sistema sinérgico em que os resíduos de uma atividade beneficiam as outras. A ILPF ajuda a aumentar a eficiência do uso da terra e a captura de carbono.
Sistemas Agroflorestais (SAFs): SAFs envolvem o cultivo de árvores junto com culturas agrícolas e/ou animais. As árvores ajudam a sequestrar carbono, melhorar a qualidade do solo e fornecer sombra e abrigo para os animais, aumentando a resiliência do sistema.
Recuperação de pastagens degradadas: envolve a restauração da fertilidade do solo em áreas degradadas. Isso pode ser feito por meio da introdução de novas espécies de gramíneas, aplicação de fertilizantes orgânicos e práticas de manejo sustentável.
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): a FBN é um processo em que certas plantas e bactérias fixam o nitrogênio do ar no solo, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos. Esse processo não apenas diminui as emissões de GEE, mas também melhora a fertilidade do solo.
Florestas plantadas: a plantação de florestas em áreas degradadas ou de baixo uso agrícola ajuda a sequestrar carbono e restaurar a biodiversidade. Árvores nativas e exóticas podem ser usadas para formar essas florestas, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
Benefícios das práticas de agricultura de baixo carbono
A agricultura de baixo carbono busca alinhar a produção agrícola com práticas ambientalmente responsáveis, visando mitigar os impactos das mudanças climáticas e promover um uso mais eficiente dos recursos naturais.
Benefícios econômicos
Aumento da produtividade: práticas como o plantio direto, a rotação de culturas, sistemas agroflorestais e a integração lavoura-pecuária-floresta melhoram a saúde e a fertilidade do solo, resultando em colheitas mais abundantes e de melhor qualidade. A rotação de culturas, por exemplo, reduz a pressão de pragas e doenças, diminuindo a necessidade de defensivos agrícolas e melhorando a produtividade das lavouras.
Redução de custos: o uso saudável do solo e o aumento de matéria orgânica diminuem a necessidade de fertilizantes químicos e outros insumos.
Geração de créditos de carbono: agricultores que adotam práticas de agricultura de baixo carbono podem se beneficiar do mercado de créditos de carbono. Por meio de programas específicos, eles podem vender créditos de carbono gerados pelo sequestro de carbono no solo para empresas que buscam compensar suas emissões de gases de efeito estufa. Esse mercado oferece uma fonte adicional de renda para os produtores rurais.
Acesso a novos mercados: consumidores estão cada vez mais conscientes sobre a sustentabilidade e preferem produtos cultivados de maneira ecológica. Agricultores que implementam práticas de baixo carbono podem obter certificações ambientais agregando valor aos seus produtos, permitindo acesso a mercados premium e aumento da competitividade.
Incentivos e subsídios: governos e organizações internacionais estão cada vez mais oferecendo incentivos e subsídios para práticas agrícolas sustentáveis. Isso inclui apoio financeiro e técnico para a adoção de tecnologias e práticas de baixo carbono, tornando essas inovações mais acessíveis aos produtores.
Benefícios ambientais
Mitigação das mudanças climáticas: a principal vantagem ambiental da agricultura de baixo carbono é a redução das emissões de gases de efeito estufa pelo sequestro de carbono no solo e com a redução de emissões comparado às práticas tradicionais.
Melhoria da qualidade do solo: a adoção de técnicas como a cobertura de palhada e a rotação de culturas aumenta a matéria orgânica no solo, melhorando sua estrutura, fertilidade e capacidade de retenção de água.
Conservação da biodiversidade: sistemas como a ILPF e os agroflorestais promovem a diversidade de plantas e animais, que aumenta a resiliência do ecossistema agrícola, contribuindo para a saúde geral do ambiente e a sustentabilidade em longo prazo.
Redução da erosão: práticas que mantêm a cobertura do solo, como o plantio direto, ajudam a prevenir a erosão. A cobertura vegetal protege o solo da ação erosiva da chuva e do vento, preservando a camada superficial rica em nutrientes e evitando a degradação do terreno.
Resiliência climática: a agricultura de baixo carbono contribui para a criação de sistemas agrícolas mais resilientes às mudanças climáticas. Solos mais férteis e estruturas agrícolas diversificadas são menos vulneráveis a variações climáticas extremas, como secas prolongadas e tempestades severas.
O plano ABC para mitigação das mudanças climáticas
A busca por uma estrutura agrícola mais sustentável não é algo recente, apesar de a urgência do tema só estar sendo considerada agora.
O Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas, conhecido como Plano ABC, é uma estratégia do Brasil para fomentar uma agricultura mais sustentável e de baixo carbono.
Lançado em 2010, o plano foi criado para atender às diretrizes da Política Nacional sobre Mudanças do Clima e visa reduzir as emissões de GEE no setor agropecuário, promovendo práticas que harmonizam a produtividade agrícola com a proteção ambiental.
Um dos principais objetivos do Plano ABC é incentivar a adoção de tecnologias que não apenas diminuam as emissões, mas também aumentem a eficiência no uso dos recursos naturais. Entre as tecnologias promovidas estão o sistema de plantio direto, que melhora a conservação do solo, e a ILPF, que promove uma gestão mais integrada das atividades agrícolas e pecuárias, contribuindo para a diversidade e sustentabilidade das práticas agrícolas.
O plano também visa recuperar pastagens degradadas, que são uma fonte significativa de emissões, além de promover a Fixação Biológica de Nitrogênio, que reduz a dependência de fertilizantes químicos.
Desde a sua implementação, o Plano ABC tem demonstrado resultados significativos na redução das emissões de CO₂, contribuindo para o compromisso do Brasil em diminuir suas emissões.
O Plano ABC é fundamental para a agricultura de baixo carbono no Brasil, pois estabelece diretrizes e incentivos para a adoção de práticas sustentáveis. Ao promover essas práticas não apenas melhora a eficiência na utilização dos recursos naturais, mas também aumenta a resiliência dos sistemas agrícolas frente às mudanças climáticas e redução das emissões de gases de efeito estufa.
Cases de empresas atuando com agricultura de baixo carbono
Dentro do escopo de startups, existem soluções que fomentam as práticas de agricultura de baixo carbono. Entre elas, um setor que tem ganhado espaço nos últimos anos é o que está favorecendo a descarbonização por meio do impulsionamento de práticas que regeneram e cuidam do solo.
Agroforestry Carbon
A Agroforestry Carbon é uma plataforma ESG conectada ao mercado de créditos de biodiversidade agroflorestal (CBA).
A startup tem como objetivo unir pequenos produtores de todo o Brasil a empresas interessadas em compensar suas emissões de carbono. Por meio da plataforma, as empresas podem escolher a quantidade de carbono que desejam compensar e financiar pequenos produtores agroflorestais no plantio e manejo das árvores, utilizando planos de assinatura e outros serviços, como Inventário GEE e calculadora de CO₂.
Mombak
A Mombak é uma startup que atua na remoção de carbono da atmosfera por meio de projetos de reflorestamento de áreas degradadas na Amazônia.
Sua abordagem combina ciência, tecnologia, gestão florestal e engajamento social, resultando em florestas que não apenas capturam carbono, mas também aumentam a biodiversidade.
Além disso, eles garantem a preservação em longo prazo dessas áreas para evitar novos desmatamentos, e a partir desses projetos a Mombak vende créditos de carbono para empresas globais.
re.green
A re.green desenvolve uma solução para a restauração ecológica em larga escala, focando na recuperação das florestas tropicais Amazônia e Mata Atlântica.
Utilizando tecnologia avançada para mapeamento e seleção de áreas degradadas, a empresa conta com o viveiro Bioflora para fornecer mudas nativas e apoiar a pesquisa e desenvolvimento.
A re.green capacita comunidades locais para o manejo sustentável e o monitoramento das florestas restauradas, além de gerar créditos de carbono e desenvolver uma cadeia de valor para a madeira nativa. Eles possuem a meta de restaurar um milhão de hectares e capturar 15 milhões de toneladas de carbono por ano.
Agrosintropia
A AgroSintropia oferece soluções em agrofloresta, urbanismo, ESG e educação. A empresa projeta sistemas personalizados que combinam práticas ecológicas e agrícolas para promover a saúde do solo e a biodiversidade, com modelos que incluem pomares agroflorestais, restauração ambiental e integração com animais.
Ela transforma espaços urbanos com soluções agroflorestais, como hortas e pomares, criando ecossistemas sustentáveis. Em termos de ESG, a empresa desenvolve projetos auditáveis que ajudam as empresas a cumprir suas metas ambientais e sociais, como a captura de carbono e a promoção de justiça social.
Além disso, oferece uma ampla gama de opções educacionais, incluindo e-books, cursos online e presenciais, e palestras, para capacitar indivíduos e equipes sobre práticas agroflorestais e sustentabilidade.
Produção de café de baixo carbono
A produção de café de baixo carbono tem emergido como uma solução inovadora e lucrativa, exemplificada pela iniciativa da cooperativa MonteCCer em Monte Carmelo, no Cerrado Mineiro.
Em novembro de 2021, a cooperativa realizou o primeiro embarque de café carbono neutro para o Japão, utilizando práticas que permitem maior sequestro de carbono do que a emissão de gases de efeito estufa.
Ao adotar técnicas como a redução de fertilizantes nitrogenados, o uso de compostos orgânicos e defensivos biológicos, e a racionalização da segurança, a MonteCCer conseguiu reduzir as emissões de gases em mais de 80%, além de obter um prêmio de R$ 100 a mais por saco (Época Negócios).
Esse modelo não apenas promove uma agricultura mais sustentável, mas também abre oportunidades para expandir essas práticas para outras regiões cafeeiras do Brasil, consolidando o café de baixo carbono como uma alternativa econômica e ambientalmente vantajosa.
Conclusão
A agricultura de baixo carbono é crucial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas, devido a sua capacidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa enquanto mantém ou aumenta a produtividade agrícola.
É uma abordagem que promove práticas sustentáveis, como o plantio direto e a integração de culturas, que melhoram a saúde do solo e a biodiversidade. Além de contribuir para a mitigação do aquecimento global, a agricultura de baixo carbono também oferece benefícios econômicos aos produtores, como a redução de custos com insumos e o acesso a novos mercados, que valorizam produtos sustentáveis.
Dessa forma, essa estratégia não só assegura a conservação ambiental, mas também fortalece a resiliência dos sistemas agrícolas diante das mudanças climáticas, garantindo a segurança alimentar para as futuras gerações.