O acesso a capital cumpre uma função fundamental no financiamento de uma empresa, dando a ela os recursos e oportunidades necessários para o seu desenvolvimento, crescimento e consequentemente uma melhor economia para o país.
As formas de se obter esse capital são diversas e não existe uma “melhor opção”, e sim a mais adequada para o estágio de sua empresa.
Alguns dos exemplos disso são o venture capital (VC), growth capital e o private equity, que têm suas vantagens relativas a depender das circunstâncias e estratégias de cada empresa. O ecossistema de VC é complexo, em especial pela assimetria de informações entre os stakeholders: empreendedores, investidores, e gestores de fundos.
A ideia neste artigo é dar um contexto geral sobre o venture capital. Então, pegue seu café e siga conosco para entender mais sobre essa pauta!
O que é venture capital?
Quando falamos de venture capital, estamos falando de investimentos em capital de risco nos quais os recursos são aplicados em empresas que possuem um elevado potencial de crescimento.
Os investimentos, normalmente, são feitos via compra de participações futuras, notas conversíveis, emissões de SAFEs ou de direitos de participação.
É impossível falarmos de venture capital sem linkarmos com a dinâmica dos fundos de investimentos. As gestoras dos fundos atuam de forma segmentada, com foco em estágios de maturidade de empresas específicos, sendo que algumas se especializam em setores e localidades dos negócios, isso é o que chamamos de tese de investimentos. Geralmente o ciclo de um fundo de investimento é de 10 anos, com a possibilidade de estender em até 3 anos.
Como funciona o venture capital?
A seleção de empresas para investir é um processo bem ativo, com diversas reuniões com o time de fundadores, relatórios e diligência. Um número significativo de empresas selecionadas é indicado para o processo, enquanto o restante é resultado da abordagem da própria equipe dos fundos. Os investimentos de venture capital costumam ser particularmente atraídos por startups, principalmente aquelas que já estejam próximas ao Product Market Fit (mas pode variar de acordo com a tese do fundo).
Além disso, os gestores dos fundos também fazem uma forte análise dos fundadores das startups, afinal, o time é o motor que irá fazer com que a empresa atinja crescimentos acelerados.
Alguns gestores têm uma postura mais próxima dos fundadores iniciais da empresa, muitas vezes trazendo/indicando até novos executivos para ocuparem cargos específicos.
Após o investimento do venture capital, a empresa investida começa a lidar com uma série de expectativas administrativas, sobre o seu controle e os retornos esperados para ela. Além disso, exigências relativas a contratos também fazem parte do dia a dia da empresa.
Abrir sua empresa para o venture capital é estar aberto para ouvir orientações e aprender a lidar com pressões e trabalhar com seus novos sócios. Você está preparado para isso?
Quais as etapas do venture capital?
Com o intuito de ajudar na organização dos investimentos de venture capital, foi criada uma série de etapas que dividem o momento dos aportes.
Esses momentos dizem respeito tanto à fase pela qual a startup está passando em relação ao seu crescimento, receita, governança, tempo e também em relação ao volume de aportes recebidos.
Fonte: https://capital.endeavor.org.br/
O primeiro estágio, ou a primeira etapa de investimento, é chamada investimento-anjo, e acaba sendo mais modesto em relação às outras etapas do venture capital (devido ao risco).
A rodada seguinte recebe o nome de seed, ou semente. As startups nessa fase miram se aproximar do product-market fit e preparar uma rodada de investimento Série A.
Na rodada seed as startups não possuem todas as respostas necessárias para buscar escala, e é aqui que entra a função desses investimentos, sendo de crucial importância para ajudá-las a passar por esse momento, exatamente quando a maioria fracassa (o que chamamos de vale da morte).
A fase seguinte é quando a empresa começa a ganhar escala no mercado. Série A, série B e assim por diante, são os títulos dados a cada uma das rodadas que constituem essa fase, na qual se concentram os aportes mais volumosos para as empresas.
Funding round |
FFF / Anjo |
Pre-seed |
Seed |
Series A |
Estágio da startup |
Primeiras validações, provas de conceitos, primeiras vendas. |
MVP prototipado, faturando, conhecendo os primeiros clientes, entendendo como reter os primeiros usuários |
Aumentar as vendas e investimentos em mkt, aperfeiçoamento das máquinas de vendas, “tateando” o PMF |
Product-market Fit, trabalhando na escala e estruturação dos processos da empresa |
Faixa de investimento |
Até R$ 1 MM |
R$ 1 MM – R$ 4 MM |
R$ 5 MM – R$ 20 MM |
R$ 40 MM – R$ 120 MM |
Equity/participação |
5 – 10 % |
5 – 15 % |
10 – 20 % |
20 – 30 % |
Duração média do round |
9 – 12 meses |
9 – 15 meses |
12 – 18 meses |
> 12 meses |
Modelo de contrato |
Mútuo, conversíveis |
Mútuo, conversíveis |
Nota conversível, SAFE |
Participação, equity |
Investidores |
Aceleradoras, venture builders, rede de contatos |
Equity crowdfunding, rede de anjos, fundos early stage, venture builders |
Equity crowdfunding, fundos early stage, venture debt |
Fundos venture capital, corporate venture capital (CVC), venture debt (bridge) |
Pontos a serem observados por investidores |
- Tamanho do mercado |
- Aprendizados das primeiras validações – Diferencial competitivo |
- Retenção dos usuários |
– Crescimento constante |
Ticket médio e médias dos aportes recebidos por estágio (valores em US$)
O que são os fundos de investimento?
Os fundos são grupos que reúnem pessoas físicas e jurídicas dispostas a aplicar seus recursos para serem investidos conjuntamente. Os investidores de um fundo confiam seu dinheiro aos seus administradores (LPs – General Partners), que ficarão responsáveis por aplicar esse dinheiro e fazer a divisão e diversificação dos investimentos.
Além disso, por tratarem de um dinheiro que não pertence exatamente a eles, existe uma série de regras de governança que os fundos devem seguir em sua gestão. Algumas dessas regras incluem, por exemplo, o limite de percentual do patrimônio investido em ativos emitidos por uma mesma instituição financeira etc.
O que é a tese de investimento?
Como o próprio nome já sugere, a tese de investimento é a ideia central que direcionará os parâmetros que avaliarão um investimento. Por exemplo, quando compramos alguma coisa, normalmente já temos uma ideia do que consumiríamos, certo? E se tivermos que escolher, optaremos pelo item que se enquadrar melhor nas nossas necessidades terá prioridade, não é?
A tese de investimentos nada mais é do que essas necessidades citadas no exemplo, ou seja, os critérios que avaliaremos antes de colocar nosso dinheiro lá. Cada modalidade tem seus próprios critérios, buscando aquilo que faz mais sentido para cada tipo de investimento.
Como explicado em outros momentos, não se trata apenas de injetar dinheiro na empresa, mas muitas vezes auxiliá-las nas tomadas de decisão e na própria composição do seu corpo administrativo.
Isso significa que os critérios para investimentos, nesse caso, necessariamente girarão em torno de coisas como o tamanho da empresa e o investimento necessário.
Além disso, a confiança na equipe da empresa é fundamental. Olhar o histórico e o perfil dos sócios, o modelo de negócios, a composição do time e a visão de longo prazo são alguns dos principais pontos.
Como é o mercado de venture capital nos EUA e no mundo?
Quando falamos de venture capital nos EUA, nós estamos falando de nada mais nada menos que o principal mercado de venture capital do mundo.
Mesmo com a pandemia, o mercado resistiu bem em 2020 e bateu recorde de captações e 2021. O ano passado foi bem outlier para o mercado de venture capital geral, e em nossa opinião 2022 resistiu bem à instabilidade da economia global. E a expectativa em termos de volume de captação é que este ano ultrapasse os anos anteriores a 2021.
Em termos de quantidade de deals, negócios early stage nos Estados Unidos são os mais atraídos e representaram mais de 56% dos aportes em 2022, até então.
Venture capital no mundo
E como é o venture capital no Brasil?
Já no Brasil, disparamos o maior mercado de venture capital de toda a América do Sul, tendo recebido mais de 60% de todo o valor investido nessa modalidade na região. O grande tamanho do mercado brasileiro é uma das coisas que mais atrai tanto novos investidores, como novas startups também para o nosso país. O crescimento do ecossistema de inovação é visível em todos os países da América Latina analisados e o volume de investimentos vêm crescendo ano após
ano, especialmente no Brasil.
E não é só o volume atual que impressiona, mas a evolução desse tamanho: de 2013 para cá aumentou em mais de 10 vezes.
E mais: como de 2017 para 2021, num período ainda menor de tempo, o número de investidores também aumentou consideravelmente, chegando a dobrar, evidenciando o mercado brasileiro como o mais aquecido dentro da América Latina, atraindo alto interesse de investidores internacionais e seguindo com dry powder¹ bastante alto.
Dry Powder¹: o capital comprometido que ainda não foi investido.
Em 2021 tivemos um ano muito outliers (fora da curva) quando comparado aos demais anos, em nossa visão o Venture capital segue aquecido, principalmente no early stage.
E as correções dos valuation de startups, como estão?
As maiores correções de valuation ocorrem em estágios late stage, enquanto os estágios iniciais permanecem com os valuations relevantes como seguem os reports.
Da mesma forma que com o venture capital, tanto empresas, quanto instituições, fundos de investimento, e até investidores individuais podem ser responsáveis pelos aportes.
Além disso, esses investimentos também podem vir acompanhados de algum tipo de apoio administrativo, quando os responsáveis pelos investimentos auxiliam nas tomadas de decisão e nas indicações para cargos importantes.
É importante ressaltar que os investimentos apenas são feitos quando as empresas já possuem algumas boas margens lucrativas ou bastante sinergia com a tese de investimentos. Além disso, outros quesitos como um fluxo de caixa estável, e uma estrutura suficientemente capacitada para atender o endividamento
Qual a diferença entre o private e equity e o venture capital?
Assim como no venture capital, os investidores desse tipo de fundos estão dispostos a correr mais riscos em troca de maior potencial de retorno. De fato, quando analisamos rapidamente, ambas as modalidades possuem muitos pontos em comum, e a diferença de nomenclatura parece até uma mera formalidade. Mas não é bem assim, olhando com atenção é possível perceber algumas boas disparidades entre os tipos de investimento do venture capital e do private equity.
O private equity, é um tipo de investimento feito para empresas que já estão mais preparadas e estruturadas, enquanto o venture capital é focado em empresas emergentes com alto potencial de crescimento.
Outra característica é que o investimento de fundos de private equity costumam ser mais diversos, gerando empresas especializadas em maior variedade de setores de mercado.
Enquanto isso, o venture capital tem como característica o investimento em empresas mais ligadas à inovação e mercados com um grande potencial de crescimento e tecnologia, enfatizando mais a diferença das duas modalidades.
As vantagens de uma modalidade de investimento para outra acabam sendo muito relativas, dependendo da intenção da empresa e do investidor.
No caso do investidor, é possível dizer que em linhas gerais os VCs oferecem um potencial de valorização maior, enquanto os fundos de private equity oferecem menor risco, uma vez que investem em empresas mais consolidadas e em estágios mais maduros.
Quais as expectativas do venture capital para 2023?
Em 2022 os valores investidos em startups em estágios iniciais cresceram, em destaque para o estágio seed (anjo, pre-seed e seed) que teve alta de 86 % quando comparado ao primeiro semestre de 2021. O primeiro semestre de 2022 foi marcado também pela quantidade de fusões e aquisições. Detalhamos neste artigo a visão sobre o mercado de M&A de startups.
As previsões para o mercado de venture capital no Brasil em 2023 nos parecem bem otimistas, mesmo com a inflação elevada e a alta da taxa de juros.
Segundo especialistas, como a inflação está muito próxima e até superior à taxa de juros, os investimentos em títulos do governo ou atrelados à Selic se tornam pouco atrativos e incentivam maiores riscos.
Outras questões, como o tamanho da população brasileira, também se demonstram como grandes atrativos para investidores e startups. Além disso, setores lingados à biotecnologia estão entre os favoritos dos especialistas.
Nessa área, a produção passa pelo uso de seres vivos (como células e moléculas), para o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos, agrícolas e alimentícios.
Isso gera ainda mais entusiasmo, uma vez que as previsões são que até 2028 o Brasil se torne um dos 10 maiores mercados da saúde do mundo e ocupar a sexta posição no mercado farmacêutico. Somado ao já forte agronegócio nacional, esse nicho parece deixar os especialistas em venture capital ainda mais animados.
Enfim, o nome “venture capital” pode assustar um pouco, mas seu conceito não é tão difícil de entender depois de se olhar tudo com calma.
Além disso, pode ser uma ótima oportunidade para aqueles que possuem startups e precisam de mais recursos, que poderão contar ainda com ajudas administrativas dos investidores, o chamado “smart-money”. Sem contar o forte desempenho que o Brasil vem apresentando nessa área, o que torna as condições ainda mais favoráveis.
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