O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, e as agtechs estão desempenhando um papel significativo no fortalecimento do setor do agronegócio. Com o advento de novas tecnologias e o crescimento do número de agtechs no país, as práticas agrícolas tradicionais têm sido revolucionadas e aprimoradas. A integração da tecnologia na cadeia de valor do agronegócio resultou em maior eficiência, produtividade, lucratividade e sustentabilidade.
Como as startups contribuem para o crescimento do agro brasileiro?
As startups estão desempenhando um papel crucial na transformação do cenário do agronegócio no Brasil. As agetchs estão alavancando a tecnologia para enfrentarem alguns dos desafios críticos do setor, como o acesso ao crédito, os elos de mercado e a gestão da cadeia de abastecimento e suprimentos.
Por exemplo, a startup brasileira BemAgro desenvolveu uma plataforma que transforma imagens de drone e satélite em informações, ajudando os agricultores a aumentarem a produção e reduzir custos. Outra startup, a Agroboard, desenvolveu uma plataforma que gerencia e controla a exposição e riscos relacionados a comodities, e por meio de seus relatórios é possível ter um raio-x completo de todas as exposições e operações, permitindo tomar decisões rápidas e se antecipar a movimentos de mercado.
Avanços tecnológicos como a agricultura de precisão, IoT, acesso ao crédito, tecnologização de máquinas/implementos e inteligência artificial transformaram a maneira como os agricultores administram suas propriedades.
A agricultura de precisão, por exemplo, envolve o uso de sensores, GPS e drones para monitorar as condições do solo, do clima, o crescimento da cultura, o nível de pragas e doenças, bem como prever o rendimento da produção. Isso ajuda os agricultores a tomarem decisões baseadas em dados, o que vai desencadear na correta proporção sobre o uso de fertilizantes, pesticidas e água, resultando em melhores margens e redução de custos.
Da mesma forma, dispositivos e softwares integrados em máquinas agrícolas, como é proposto pela Velos, ajudam o pequeno e médio produtor a ter acesso a informações sobre os maquinários agrícolas. Com a Velos, o produtor tem os registros dos códigos de apontamento, o controle de rotação e velocidade, nível da água e pressão do óleo. Além disso, podemos ver a localização da máquina, o horário de troca de turno e o horário real de início de trabalho e do final da jornada.
Quais países lideram adoção de tecnologia na produção agrícola?
De acordo com a Global Farmers Insights de 2022, a América do Norte e Europa lideram em uso de novas tecnologias, e o Brasil está liderando a adoção de uso de biológicos na produção.
No campo, quem são os pioneiros em adotar tecnologia para o agronegócio?
De acordo com a pesquisa da McKinsey, A mente do agricultor brasileiro 2022, em que foram entrevistados mais de 2.000 produtores nas principais regiões cultiváveis do Brasil, os pioneiros em adotar tecnologia para o campo são os mais jovens e grandes produtores de grãos. Além disso, cerca de 50% dos agricultores já adotam ou estão dispostos a adotar tecnologias agrícolas em suas operações.
Veja abaixo o gráfico com o percentual de respondentes que atualmente adotam ou estão dispostos a adotar tecnologias agrícolas nas próximas 2 safras.
Quais as tendências de inovação e adoção de tecnologia para o agronegócio?
Rastreabilidade dos produtos agrícolas
Com a crescente demanda por transparência e responsabilidade na cadeia de fornecimento de alimentos, a necessidade de rastreabilidade dos produtos agrícolas tem se tornado cada vez mais importante. Rastreabilidade refere-se à capacidade de rastrear e acompanhar o movimento dos produtos alimentícios desde a semente (fazenda) até o consumidor final. Isso inclui informações sobre a origem do produto, como foi produzido e os canais de distribuição utilizados.
Há várias tecnologias que podem ser usadas para alcançar a rastreabilidade, incluindo: IoT (internet das coisas) e RFID (identificação por radiofrequência) e a tecnologia blockchain, por exemplo, que é um livro razão descentralizado e imutável que pode registrar informações sobre a origem e o movimento de produtos agrícolas. Isso garante que os dados sejam à prova de adulterações, facilitando rastreabilidade dos produtos.
Em geral, o uso de tecnologia no agronegócio para rastreabilidade é uma tendência promissora que pode ajudar a melhorar a segurança alimentar, aumentar a transparência e a confiança do consumidor.
À medida que mais consumidores se tornam conscientes da importância de saber de onde vêm seus alimentos, os produtores que adotam essas inovações ficam mais bem posicionados para atender necessidades e expectativas do mercado.
Menos desperdícios no sistema alimentar
O desperdício de alimentos é um grande problema no sistema alimentar que vem atormentando a indústria há anos. Com a população mundial crescendo, as foodtechs estão apresentando formas inovadoras de reduzir o desperdício de alimentos e melhorar a eficiência geral do sistema alimentar. Graças aos avanços da tecnologia, as foodtechs são agora capazes de alavancar dados e análises para criar soluções que ajudam a minimizar o desperdício de alimentos.
Uma das formas com que as foodtechs estão ajudando a reduzir o desperdício é por meio do uso de aplicações que permitem os consumidores comprarem alimentos que estejam próximos de sua data de validade com desconto. Esses aplicativos conectam os consumidores com as empresas locais que têm excesso de estoque, permitindo-lhes adquirir produtos de alta qualidade a uma fração do custo. Isso não só ajuda a reduzir o desperdício de alimentos, mas também ajuda os consumidores a economizarem dinheiro em suas contas de mercearia.
Tecnologia para a pecuária
Um exemplo de tecnologia utilizada para reduzir as emissões de gases de efeito estufa é o Bovaer®, aditivo criado pela empresa holandesa de biociência DSM para reduzir as emissões de metano na ruminação.
Testado em diferentes países, sistemas de produção e raças, o produto apontou queda de no mínimo 30% em vacas leiteiras e até 90% em gado de corte. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Unesp, entre 2016 e 2017, registrou queda de até 55% na emissão de metano.
Outro destaque são os sistemas que associam a criação de gado com a agricultura (integração lavoura-pecuária) ou ainda com o plantio comercial de florestas (integração lavoura-pecuária-floresta). Esses manejos recuperam pastagens degradadas, aumentam o sequestro de carbono pelo solo e melhoram a alimentação do gado, gerando mais recursos ao produtor.
Esses trechos foram retirados da coluna JBS Net Zero, no Valor Econômico.
Uso de biológicos na produção agrícola
O uso crescente de produtos biológicos na produção agrícola e no controle de pragas revolucionou a forma como abordamos a proteção das culturas. A biotecnologia utiliza organismos vivos ou seus subprodutos para controlar pragas e doenças nas plantações, dispensando a utilização de aditivos químicos que eram anteriormente empregados em peso.
Os biológicos são ecologicamente melhores e oferecem uma alternativa sustentável aos tradicionais pesticidas, defensivos e fertilizantes, além de outros agrotóxicos químicos. Como podemos ver, o Brasil está liderando a adoção de uso de biológicos na produção agrícola.
Exemplos de startups: a Decoy é uma startup brasileira de biotecnologia focada em pesquisa e desenvolvimento de produtos para controle de pragas em animais e, no ano passado, recebeu um aporte de R$ 9 milhões, sendo o investimento liderado pela SP Ventures, fundo especializado em soluções de AgFoodtech na América Latina, e a Farmabase, empresa brasileira de fabricação de medicamentos para aves e suínos.
Crédito/Mercado de Carbono
Nos últimos anos tem havido uma crescente consciência da necessidade de reduzir as emissões de carbono e mitigar o impacto da mudança climática. Como resultado, as oportunidades para programas de redução de carbono aumentaram, criando um novo mercado para as empresas e organizações participarem.
O mercado de carbono é o sistema de compensações de emissão de carbono e tem objetivo reduzir e controlar as emissões de gases de efeito estufa. As startups que atuam nesse viés são um componente-chave desse mercado e fornecem um meio para as empresas compensarem sua pegada de carbono, investindo em projetos de sustentabilidade ou comprando crédito carbono.
Esse mercado cresceu rapidamente nos últimos anos: em 2021 ela representou US$1,2 bilhão. Uma pesquisa de 2022 feita pela McKinsey estima que essa indústria se multiplique por 15 vezes até 2030.
O crescimento e a adoção de programas de redução de carbono representam uma oportunidade significativa para as empresas demonstrarem seu compromisso com a sustentabilidade e contribuírem para a luta contra a mudança climática.
Caso você queira aprofundar seu conhecimento no assunto ESG, recomendamos a leitura do artigo O poder do ESG: como a boa governança pode transformar seus negócios.
Conclusão
A integração da tecnologia e das empresas iniciantes no setor do agronegócio trouxe benefícios significativos para os agricultores brasileiros. Da agricultura de precisão a compras e distribuição online, essas inovações estão ajudando os agricultores a se tornarem mais produtivos, eficientes e lucrativos.
Como a tecnologia continua a evoluir, podemos esperar constantes avanços no setor do agronegócio, tornando o Brasil um participante ainda mais significativo no setor agrícola global.