Fundada em 2022, em Penha (SC), por Lucas Welsh, a SeaCarbon (antiga Algatec) vem revolucionando a agricultura com o uso de macroalgas, mais especificamente a Kappaphycus alvarezii, que traz benefícios tanto para a produção de alimentos por meio da agricultura quanto para o meio ambiente, visto que não é feito o extrativismo e, sim, o cultivo de algas. Continue lendo e conheça a história da SeaCarbon.
O início da jornada
A história da SeaCarbon é recente. Ela foi fundada de forma totalmente bootstrap, ou seja, sem capital externo, sendo financiada e desenvolvida pelos próprios fundadores. Lucas Welsh, com sua expertise em aquicultura encabeçou a ideia e contou com o apoio de desenvolvimento de Paulo Bogorni, doutor em entomologia e engenheiro agrônomo.
A ideia surgiu da crescente demanda por alternativas aos fertilizantes convencionais, cuja produção depende fortemente de insumos importados e de processos químicos. O Brasil, sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, enfrentava desafios com a escassez de fertilizantes durante crises internacionais e conflitos globais, que impactaram diretamente a oferta e aumentaram os custos desses insumos.
Foi nesse contexto que os fundadores identificaram uma oportunidade: aproveitar a biodiversidade marinha para produzir fertilizantes sustentáveis, alinhando-se às crescentes exigências por soluções de baixo carbono e ambientalmente corretas.
Oportunidade no mercado de algas marinhas e aplicação no agro
O projeto começou como uma fazenda marinha de algas Kappaphycus alvarezii, a fim de produzir centenas de toneladas/ano de algas. Mas, ao tentarem adentrar nesse comércio, perceberam que o mercado de algas no Brasil era muito imaturo e poucas empresas estavam processando esse insumo.
Atualmente, todos os outros extratos de algas presentes nas formulações brasileiras são importados. Dessa forma, as fábricas que utilizam esses insumos têm um custo mais alto, uma cadeia de suprimentos mais complexa e que normalmente necessita de fretes marítimos, e uma disponibilidade mais sazonal de produto na origem, normalmente do Canadá.
Foi nesse momento que os fundadores identificaram uma oportunidade e começaram a focar no desenvolvimento de tecnologias de processamento das algas e desenvolvimento de bioinsumos a partir da mesma.
Lucas Welsh, sócio e engenheiro de aquicultura, ficou mais focado na produção e processamento, enquanto Paulo Bogorni, engenheiro agrônomo, se dedicou ao desenvolvimento do uso agrícola das soluções.
A solução de algas para agricultura: Kappaphycus alvarezii
A resposta da SeaCarbon para essa necessidade surgiu no mar. A Kappaphycus alvarezii, uma macroalga nativa do Indo-Pacífico, se destacou como uma solução inovadora e sustentável. Liberada para cultivo no Brasil em 2020, essa alga tem crescimento excepcional, podendo atingir taxas de produção de até 6% ao dia no auge do verão. Essa característica a torna uma excelente matéria-prima para o desenvolvimento de bioinsumos.
Cultivadas em fazendas marinhas em Penha, Santa Catarina, as algas são processadas de forma 100% mecânica, sem o uso de produtos químicos, diferentemente de outras algas importadas, que muitas vezes são extraídas da natureza em processos predatórios que afetam a fauna marinha. Esse método garante a preservação das propriedades naturais dos nutrientes marinhos, ricos em fitormônios (ou hormônios vegetais) e potássio, essenciais para o desenvolvimento saudável das plantas.
Hoje a SeaCarbon vê como cliente ideal o B2B, focando em empresas de fertilizantes foliares e outros negócios com capilaridade no agro, focando na entrega de insumos e no desenvolvimento de produtos white-label. O foco atualmente é explorar ao máximo a produtividade das algas, deixando o embate comercial para as grandes empresas do Brasil.
O extrato de algas com efeito bioestimulante, rico em nutrientes marinhos, é aplicado diretamente nas lavouras, promovendo o fortalecimento das raízes e maior resistência das plantas. Estudos mostram aumentos de produtividade de 5% a 31% em culturas como soja, milho, cana e melão.
Além de beneficiar o campo, a solução da SeaCarbon tem impacto ambiental positivo, protegendo ecossistemas marinhos e capturando CO₂, e é mais barata que os concorrentes internacionais. A empresa está expandindo sua produção e validando o uso do produto em novas culturas, com o objetivo de transformar a agricultura em um processo mais sustentável e eficiente.
Jornada de crescimento de biotech SeaCarbon
A Algatec ainda está na fase bootstrap, o founder conta: “fizemos aportes na pessoa física e captamos o melhor dinheiro disponível do mercado: o do cliente. Agora estamos nos estruturando para uma nova fase de crescimento e construção de portfólio, quando possivelmente abriremos espaço para uma captação.”
Para maximizar o impacto, a agtech entende que é necessário escalar suas operações. Com um modelo de negócio focado no B2B, a empresa possui e busca ampliar suas parcerias estratégicas com grandes produtores e distribuidores do setor agrícola, de forma a aumentar sua penetração no mercado de bioinsumos.
A startup planeja também expandir suas operações, com a construção de uma biofábrica para registro e desenvolvimento de novos produtos. Isso não apenas aumentará sua capacidade de produção, mas também permitirá que a empresa gere novas soluções e atenda também o B2C, especialmente no desenvolvimento de formulações, análises de resultado em campo e formação de massa-crítica sobre a tecnologia.
Hoje a agricultura já usa extratos de alga, principalmente a Aschophyllum nodosum, e a maior empresa do setor é a Acadian, que possui cinco fábricas e exporta para mais de 80 países. Esse é um benchmark que inspira a SeaCarbon.
“É a tecnologia que nos trouxe até aqui, mas gosto de comparar o extrativismo das algas com a pesca. Quantas vezes você comeu bacalhau esse ano? E salmão, tilápia, camarão? O primeiro é extrativista, os outros 3 são produtos da aquicultura! É nesse sentido que acredito que nossa tecnologia vai crescer inspirada na anterior.” – Lucas Welsh, founder da SeaCarbon.
Marcos estratégicos da Sea Carbon
- Área produtiva outorgada em dezembro de 2022;
- Estruturação do time de produção e validação mais robusta do produto em 2023;
- Alcance da capacidade produtiva em grande escala e processamento eficiente;
- Formação e ampliação do time comercial em 2024.
Eles estão formando um time comercial para expandir o atendimento nacional e internacional. Além disso, estão montando uma nova unidade de processamento, onde vão obter o selo de orgânico, bem como a liberação de produção de fertilizante. Essas duas ações destravarão muito valor para a companhia.
No que tange ao longo prazo, a SeaCarbon está trabalhando na liberação de novas áreas de cultivo, focando em expandir e diversificar a produção. O potencial de superar os produtos de extrativismo tende a nos levar a empresa para uma rota de exportação muito intensa.
SeaCarbon traz sistema ganha-ganha-ganha para o mercado
A SeaCarbon possui como propósito se tornar grande o suficiente para efetivamente melhorar a qualidade de água das regiões onde produzem e agregar valor nas duas pontas: o produtor de algas parceiro e o produtor usuário do produto, além de beneficiar o meio ambiente. É um sistema ganha-ganha-ganha.
Esse é um exemplo claro de como inovação, sustentabilidade e visão de longo prazo podem se unir para resolver grandes desafios globais. Com uma solução que equilibra o uso responsável dos recursos naturais e o aumento da produtividade agrícola, a startup está pavimentando o caminho para o futuro da agricultura no Brasil e no mundo.