Entenda no que consiste a análise de solos e como essa prática beneficia a produção agrícola de um país.
Já sabemos que o solo é o motor do agronegócio. Por meio dele se torna possível a colheita das mais diversas culturas, que são destinadas para alimentação básica humana, insumos ao setor agropecuário e até mesmo para a produção de commodities destinadas à exportação para os mais diversos lugares do mundo.
Com o aumento da produção agrícola, o Brasil vem ganhando cada vez mais destaque no âmbito mundial, sobretudo pelo volume de produtos exportados. Isso tem gerado uma demanda cada vez mais significativa por gêneros agrícolas nacionais, o que se configura como um grande desafio sustentável para o país.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), estima-se que aproximadamente 33% do solo global esteja moderada ou altamente degradado. No Brasil, estudo realizado pela Embrapa, e publicado na revista internacional Land, indica a existência de aproximadamente 28 milhões de hectares de pastagens no Brasil com níveis de degradação intermediário e severo que apresentam potencial para a implantação de culturas agrícolas.
Portanto, torna-se necessário o aprimoramento de novas tecnologias, a fim de que promovam o cuidado, nutrição e análise do solo cultivável, em prol da resolução de problemas relacionados ao desgaste da terra.
Um aspecto positivo tem sido o constante trabalho de iniciativas públicas e privadas motivadas a dinamizarem nessa área e a oferecerem serviços cada vez mais eficientes e sofisticados.
No início de 2024, diversos laboratórios habilitados pela EMBRAPA começaram a ofertar a tecnologia BioAs, que consiste na análise de enzimas relacionadas ao potencial produtivo do solo. Atualmente, a rede de laboratórios já soma 32 unidades especializadas em bioanálise do solo, utilizando essa tecnologia. Outros 30 serão validados ainda neste ano. A tecnologia possui hoje o maior banco de dados de atividade enzimática de solos do mundo, com informações superiores de 30 mil amostras das mais diversas regiões brasileiras.
Iniciativas como essa fizeram do Brasil o único país no mundo a ter parâmetros biológicos nas análises de solo, calibrados com base no rendimento de grãos e na matéria orgânica, e que vem assumindo destaque no mercado de análises de solos.
O que é análise de solo?
A análise de solos consiste em um conjunto de processos de origem química, englobando ferramentas de biotecnologia com o objetivo de entender a concentração e distribuição de micro e macronutrientes no solo (como nitrogênio, fósforo e potássio, entre outros), de forma que se possa compreender as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, fundamentais para a nutrição de diversas plantas.
Importância da análise de solo
Esse instrumento permite, de forma mais barata e eficiente, entender o nível de fertilidade da terra, além de ajudar na estimativa de custos com insumos agrícolas e pesticidas necessários para manter as lavouras, visando obter a melhor lucratividade possível.
A análise de solos possibilita que o produtor compreenda a quantidade de nutrientes necessários no solo para mantê-lo fértil. Além disso, torna possível a identificação e administração de áreas vulneráveis ao intemperismo químico e físico, promovendo a sustentabilidade agrícola por meio do uso eficiente dos recursos e otimizando o planejamento agrícola e de gastos.
Benefícios da análise de solos
A análise de solos beneficia tanto o produtor rural como também a fauna e flora locais. Dentre os principais benefícios desse processo, destacamos:
- Incremento da produtividade por meio da identificação de nutrientes;
- Detecção de solos contaminados;
- Aumento da eficiência no uso de fertilizantes e recomendação de taxas de uso adequadas para diferentes solos e culturas;
- Preservação do meio ambiente pela redução do uso excessivo de fertilizantes.
Dessa forma, a análise de solos se torna uma ferramenta indispensável para a agricultura sustentável, trazendo clareza acerca das necessidades especificas de cada solo e possibilitando a implementação de práticas agrícolas mais responsáveis e eficientes.
Tipos de análise de solos
A análise de solos é a primeira etapa, e uma das mais importantes, a ser realizada antes do plantio de uma cultura. Existem diversos tipos de análise de solos, como:
Análise de enzimas no solo
Comentada anteriormente, a tecnologia BioAs, desenvolvida pela EMBRAPA e que utiliza de enzimas oriundas de microrganismos vivos e outras enzimas, é um método de análise enzimático.
São executadas avaliações por meio de bioindicadores do solo, como os ciclos do carbono e do enxofre.
Análise física do solo (análise granulométrica)
Avaliação das propriedades físicas do solo, como densidade e concentração de partículas minerais, fluxo de água, estabilidade dos grãos do solo, capacidade de o solo reter água, porosidade e tamanho das partículas que constituem o solo (areia, silte e argila).
Análises geofísicas
Método baseado na utilização de práticas de resistividade elétrica, indução eletromagnética e a tomografia de resistividade elétrica, a fim de que se possa mapear e entender as propriedades físicas do solo, sobretudo com relação a concentrações de minerais presentes.
Análise química da fertilidade do solo
Avaliação feita com procedimentos químicos a fim de saber a quantidade de nutrientes presentes no solo.
Análises bioquímicas
Análises especiais ou “crop protection” focam na avaliação de agentes patogênicos no solo, tais como fungos, bactérias, nematoides e outros organismos nocivos às culturas, de forma a ajudar na prevenção das plantações, além de oferecer novos insumos e aumentar a produtividade agrícola.
O mercado de análise do solo
Segundo o relatório “A mente do Agricultor”, da McKinsey e Company, foi realizada uma pesquisa para entender o percentual correspondente de agricultores brasileiros que utilizam práticas agrícolas sustentáveis e operacionais eficientes, em termos de energia e água. A pesquisa contou com as respostas de 731 produtores rurais, cuja distribuição está descrita abaixo.
Startups do agro que atuam com análise de solo
Diversas empresas inovadoras estão surgindo com propostas escaláveis que buscam transformar o setor agrícola brasileiro por meio da análise de solos, entre eles estão: ByMyCell, Quanticum e Biome4all.
BymyCell
A ByMyCell é uma agtech especializada em big data e análise genômica, que oferece serviços de mapeamento de solos por meio de relatórios detalhados. A startup utiliza um algoritmo genético para analisar os dados relacionados a microrganismos presentes no solo, o que acelera o processo de testes e reduz custos laboratoriais, auxiliando na tomada de decisão com o objetivo de promover uma maior produtividade e reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas no campo.
A tecnologia da ByMyCell emprega técnicas de sequenciamento de DNA para localizar e quantificar a diversidade de microrganismos benéficos e patogênicos de forma rápida, por meio da plataforma ByMySoil+, que foi lançada no começo de 2023 e já possui grande adesão por produtores rurais.
Quanticum
A Quanticum foi a primeira startup do Brasil a ter um pedido de patente concedido para agricultura regenerativa, medindo a regeneração e degradação do solo. É no solo que começa a agricultura convencional, de precisão, digital ou regenerativa.
A startup desenvolveu uma metodologia para a tipificação de argilas do solo em três eixos de atuação: diagnóstico, agro data science e práticas de manejo. Ao final do processo de análise dos dados obtidos, é realizado o diagnóstico e mapeamento das nanopartículas naturais dos solos por meio de análises estatísticas rigorosas, gerando relatórios que ajudam seus clientes a entender o impacto das tipologias de argila nos tratamentos de solo, otimizando a eficácia de suas práticas agrícolas.
O diretor executivo da Quanticum, Diego Siqueira, acredita que o solo e o manejo integrado de fertilizantes são essenciais para o desenvolvimento da agricultura regenerativa e da 4ª Revolução Agrícola.
Siqueira acrescenta que, atualmente, a existência de mais de 200 tipos de argilas no solo pode trazer a compreensão de como esse recurso pode gerar retornos financeiros significativos.
Segundo o TCU, é apontado um retorno de R$ 180 para cada R$ 1 investido em conhecimento sobre o solo. Entretanto, o Brasil ainda enfrenta a falta de especialistas e precisa de novas metodologias adaptadas aos solos tropicais a fim de impulsionar a sustentabilidade agrícola.
Biome4all – B4A
A B4A utiliza de genética e biotecnologia para coletar dados e interpretar a microbiota do solo e assim, prescrever manejos e tratamentos regenerativos que promovam a saúde do solo, tal como sua eficiência produtiva.
A agtech avalia mais de 4 mil indicadores de nutrição e 1400 de proteção do solo, a fim de oferecer um relatório personalizado e preciso para a promoção de estratégias eficazes de manejo da terra.
A empresa gerencia o projeto Agro Bioma Brasil, que consiste em um mapeamento genético do solo brasileiro e que já monitorou mais de 27 mil hectares de diferentes regiões e 7 tipos de cultivo. Atualmente, o projeto está encaminhado para mapear a maturidade microbiológica do solo em 8,5 milhões de hectares de soja no Cerrado.
A disposição de um amplo acervo de dados genéticos dos principais solos agrícolas permite com que o Agro Bioma Brasil identifique padrões e estabeleça correlações com estratégias de tratamento para recuperação de solos degradados e ganhos de eficiência e produtividade no agronegócio, por meio de práticas sustentáveis.
Comparativo: ByMyCell, B4A e Quanticum
As três startups estão revolucionando o mercado de análise de solos, por meio de ideias e abordagens inovadoras sobre os assuntos. Esse tópico se destina exclusivamente a destacar as principais características que existem entre cada uma delas.
ByMyCell
• Modelo de negócio: plataforma em nuvem para análise genômica.
• Principais focos: processamento de dados genômicos (sequenciamento de DNA).
• Tipos de dados analisados: dados genômicos brutos, potencial metabólico e enzimático de organismos no solo.
• Resultados esperados: redução no tempo total do projeto e simplificação do acesso à genômica.
• Tecnologia: machine learning, big data e computação em nuvem.
• Diferenciais: economia de escala e rapidez na entrega.
B4A
• Modelo de negócio: plataforma para mapeamento genético do solo.
• Principais focos: mapeamento genético de diversos microrganismos presentes no solo, tais como fungos e bactérias.
• Tipos de dados analisados: ampla gama de dados sobre microbiologia de lavouras.
• Resultados esperados: comparação de áreas com diferentes produtividade e custos; estratégias de manejo e potencial de fixação de carbono e nitrogênio.
• Tecnologia: machine learning, big data e sensores.
• Diferenciais: análise abrangente de diferentes biomas e culturas; tecnologia com abrangência de estudo de solo, por todo Cerrado brasileiro.
Quanticum
• Modelo de negócio: plataforma SaaS de diagnóstico, recomendação, homologação de laboratórios de análises de tipos de argilas e suporte à infraestrutura de dados.
• Principais focos: diagnóstico e mapeamento de perdas invisíveis, vulnerabilidades e aptidões naturais do solo.
• Tipos de dados analisados: dados de aptidão, risco e vulnerabilidade natural dos solos por tipologia de argilas.
• Resultados esperados: geração superior a mais de 30 parâmetros de recomendações de prevenção e saúde e regeneração do solo. Por meio de produção de laudos e relatórios, que entreguem informações em prol do desenvolvimento qualitativo e quantitativo de culturas.
• Tecnologia: computação em nuvem, big data e sensores específicos para medição de nanopartículas no solo.
• Diferenciais: patentes validadas, grandes parceiros comerciais e time integralmente composto por pós-graduandos.
Análise de solos é o caminho para uma agricultura melhor
A análise de solos é crucial para entender a fertilidade e a produtividade agrícola. É essencial que os produtores se atualizem constantemente sobre a saúde do solo, sobretudo antes de iniciar o cultivo de novas culturas. A aplicação adequada dos métodos de detecção de micro e macronutrientes é fundamental para promover a sustentabilidade e a longevidade da agricultura brasileira.
Sendo assim, é importante garantir um manejo eficiente e responsável dos recursos naturais, incentivando o desenvolvimento de novas pesquisas e tecnologias, a fim de que o setor agrícola possa evoluir continuamente, assegurando a segurança alimentar, preservando os recursos naturais e fortalecendo a posição do Brasil como líder global na produção agrícola sustentável.