Por que os fundos estão olhando para a tese de agricultura regenerativa? Por que os fundos estão olhando para a tese de agricultura regenerativa?

Por que os fundos estão olhando para a tese de agricultura regenerativa?

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A agricultura regenerativa se destina à recuperação do solo e traz um olhar abrangente sobre o ecossistema de uma fazenda. Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse por parte dos investidores em capital de risco por soluções focadas em agricultura regenerativa. Entre 2021 e 2023, os fundos de capital de risco investiram US$ 1,4 bilhão em startups desse segmento, conforme dados fornecidos pela Dealroom. Esse valor representa um aumento de 46% em relação aos três anos anteriores.

O crescimento de investimentos em agricultura regenerativa sinaliza um também crescente interesse e confiança no potencial de mercado e no impacto positivo dessas práticas. Também o relatório Soil Wealth, realizado pela Croatan Institute e outros parceiros em 2019, registrou que apenas no EUA existem aproximadamente 70 estratégias de investimento dedicadas à agricultura regenerativa, com ativos sob gestão de mais de US$ 47,5 bilhões.

A tendência do mercado de agricultura regenerativa

A tendência de mercado em direção à agricultura regenerativa está sendo impulsionada por uma série de fatores que refletem mudanças significativas nas preferências dos consumidores, preocupações ambientais crescentes e a busca por soluções para desafios globais, como as mudanças climáticas orientadas pela Agenda 2030 da ONU.

Mercado de agricultura regenerativa

Consumidores estão se tornando mais conscientes sobre a origem e os métodos de produção dos alimentos que consomem. Há uma demanda em crescimento por alimentos cultivados de forma sustentável e que tragam saúde e bem-estar para o consumidor. A indústria alimentícia também reconhece a importância de melhores práticas em suas cadeias de suprimentos e busca parcerias com produtores que adotam práticas regenerativas, principalmente como estratégia de sustentabilidade. Isso acaba criando oportunidades de investimento em toda a cadeia de valor dos modelos regenerativos.

Além disso, as crescentes preocupações com as mudanças climáticas e a degradação ambiental estão impulsionando ainda mais a demanda por alternativas de produção que desacelerem o aquecimento global. Com destaque ao grande movimento de governos e corporações para atender às metas da Agenda da ONU de alcançar a neutralidade de carbono. A agricultura regenerativa é vista como uma solução promissora, pois não apenas reduz o impacto negativo da agricultura convencional no meio ambiente, mas também tem o potencial de reverter parte desse dano, promovendo a captura de carbono e a regeneração de ecossistemas.

A Mad Capital já investiu cerca de US$ 25 milhões (R$ 124,5 milhões) em 30 agricultores, o que ajudou na transição de cerca de 25,9 mil hectares de agricultura convencional para o cultivo de produtos regenerativos. Seu portfólio de terras vem crescendo 26% ao ano, totalizando 195,4 mil hectares. O Perennial Fund II aproximará a Mad Capital da sua meta, que é financiar 12,3 milhões de hectares de agricultura regenerativa até o final de 2032.

Cenário de investimentos em climate techs

Nos últimos anos, o mercado de carbono tem registrado um crescimento significativo, impulsionado pela iniciativa das empresas em enfrentar os crescentes impactos das mudanças climáticas. Paralelamente a essa demanda, a oferta de soluções para atender a esse mercado também expandiu, especialmente com o uso da tecnologia, facilitando o comércio de créditos de carbono.

Como resultado, temos observado um aumento no número de climate techs, que são as principais startups que oferecem soluções ligadas à agricultura regenerativa para compensar as emissões de carbono. Além disso, apesar de o mercado de venture capital ter sentido nos últimos anos, as climate techs tiveram um bom crescimento proporcionalmente à participação do dinheiro ao mercado.

Investimentos em climate techs

Agroflorestas x agricultura regenerativa

Na prática, espera-se que a agrofloresta ganhe a maior participação de mercado na agricultura regenerativa. Agrofloresta é um sistema dinâmico de gestão de recursos naturais baseado em ecologia que diversifica e sustenta a produção para aumentar os benefícios sociais, econômicos e ambientais para os usuários da terra em todos os níveis, por meio da integração de árvores em fazendas e na paisagem agrícola.

A agrofloresta regenerativa sequestra muito mais carbono do que a agricultura industrial e pode ajudar na restauração de terras degradadas. Segundo cientistas da ONU, restaurar 900 milhões de hectares poderia manter as emissões globais de GEE estáveis pelos próximos 15-20 anos. A agrofloresta pode transformar essas terras prejudicadas em sumidouros de carbono produtivos de alimentos.

Por aplicação, espera-se que o manejo do solo e das culturas adquira a maior participação de mercado na agricultura regenerativa nos próximos anos.

Solo, o bem mais precioso na agricultura

Métodos de agricultura regenerativa melhoram a qualidade do solo, que se agrega e absorve mais água, permitindo que as plantas sobrevivam durante períodos de seca. Isso também beneficia os agricultores, pois a capacidade de o solo reter nutrientes solúveis em água também aumenta.

Melhorar a qualidade do solo resulta em aumento da matéria orgânica e de porosidade, o que eleva a retenção geral de água. Secas são combatidas com matéria orgânica, conhecida por sua capacidade de segurar água e a habilidade de aumentar a fertilidade do solo.

Conclusão

Aqui sempre falamos que “para o investimento ser verde a conta não pode fechar no vermelho”, assim, os modelos de agricultura regenerativa também têm potenciais retornos financeiros eficientes. De acordo com o relatório Soil Wealth, a implementação de práticas agrícolas regenerativas para sequestro de carbono e mitigação climática exigirá mais de US$ 700 bilhões em investimentos de capital líquidos ao longo de 30 anos. Apesar de ser um valor alto, essas práticas têm estrutura para mitigar quase 170 GtCO2e (bilhões de toneladas de CO₂ equivalente) e gerar um retorno financeiro líquido próximo a US$ 10 trilhões até 2050, conforme as análises do Projeto Drawdown.

A necessidade de práticas agrícolas sustentáveis é global e abrangente, o que significa que soluções eficazes têm um mercado potencialmente vasto e diversificado. Isso oferece uma atraente oportunidade de investimento para fundos de venture capital que buscam startups com o potencial de escalar e capturar uma fatia significativa desse mercado. A crescente preocupação com as mudanças climáticas e a demanda por melhores práticas e  alimentos produzidos de maneira mais sustentável é um caminho sem volta, e impossível não chamar atenção também dos fundos de investimentos.

Autoria de Henrique Galvani e Lívia Garcia
Time Arara Seed

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