O café é uma das commodities mais consumidas no mundo, sendo essencial para a rotina de milhões de pessoas. Se você percebeu que o preço do café subiu significativamente nos últimos meses, não está sozinho. Seja no supermercado, na cafeteria ou até mesmo no mercado internacional, o valor da saca de café tem registrado aumentos expressivos, se aproximando de R$ 3.000 por 60 kg.
Mas o que está por trás dessa alta? A valorização do grão não é apenas uma questão de oferta e demanda. Fatores climáticos, aumento dos custos de produção, especulação financeira e crescimento do consumo global têm influenciado diretamente o preço do café.
Além disso, a incerteza em relação às próximas safras, especialmente para 2025 e 2026, tem gerado ainda mais pressão sobre o mercado. Neste artigo, vamos explorar os principais motivos que levaram o café a ficar tão caro e o que esperar para os próximos meses. Será que os preços continuarão subindo?
Fatores que influenciaram o aumento do preço do café
O preço do café tem registrado uma forte valorização nos últimos meses, impulsionado por uma combinação de fatores climáticos, econômicos e estruturais que afetam a oferta e a demanda global. A seguir, destacamos os principais motivos que explicam essa alta no mercado.
Mudanças climáticas impactam safras de café
O café é muito suscetível ao clima e pode apresentar produtividades altas ou baixas dependendo da temperatura do ar e das chuvas durante seu ciclo de produção.
O aumento das temperaturas, o El Niño e a seca prolongada impactaram regiões produtoras do Brasil, como o Cerrado Mineiro e o Sul de Minas, reduzindo a produtividade das lavouras.
Redução na produção global de café
Estudos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam uma possível queda de 5% produção nacional, o que reforça a pressão sobre os preços e gera preocupações no mercado.
Outros grandes produtores, como Vietnã e Colômbia, também enfrentaram desafios climáticos e aumento nos custos de produção. O Vietnã, que é o segundo maior produtor de café do mundo e a maior fonte do tipo robusta foi atingido por fortes chuvas no último ano após uma seca no início de 2024. A colheita atual seguirá três anos de déficits de oferta.
Mais regiões produtoras, incluindo a Colômbia, o segundo maior produtor do café arábica, e a Honduras também estão lidando com seus próprios problemas climáticos, o que só piora a situação do mercado global, deixando mais caro para o consumidor ter acesso a uma das bebidas mais populares do mundo.
Os estoques globais de café estão em níveis historicamente baixos, aumentando a pressão sobre os preços.
Mercado e alta do dólar influenciam no aumento do preço do café
O café é cotado em dólar, e a valorização da moeda americana encarece o grão para importadores e eleva os preços no mercado interno. Fundos de investimento e tradings aumentaram suas apostas no mercado de café, pressionando ainda mais os preços nos contratos futuros.
Aumento dos custos de produção do café
Fertilizantes e insumos agrícolas encareceram, pois a maioria também é precificada em dólar. A mão de obra está mais cara e os produtores estão com dificuldade de contratação de trabalhadores, o que impacta diretamente os custos.
O consumo de café no mundo
O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água. Entre os principais consumidores de café no mundo temos a União Europeia, os Estados Unidos e o Brasil. Vale ressaltar que o Brasil, além de ser um dos principais consumidores, também é o maior produtor e maior exportador de café no mundo.
A alta demanda pela bebida nos últimos anos se deu pela recuperação do consumo após a reabertura de cafeterias, restaurantes e escritórios, o que fez com que a demanda pelo café aumentasse significativamente.
Durante a pandemia, o consumo residencial cresceu, porém o fechamento de estabelecimentos comerciais havia reduzido o consumo total. Contudo, outro fator que impulsiona o aumento da demanda global é o maior consumo de café em países emergentes como a Índia e a China.
Enquanto isso, o aumento do custo de produção acontece devido ao aumento de insumos como fertilizantes, defensivos agrícolas e combustíveis que tiveram alta expressiva devido à crise nas cadeias de suprimentos e à guerra na Ucrânia, impactando diretamente o custo da produção agrícola.
Segundo um levantamento da Agribrasilis, a tendência da quarta onda do café, com o crescimento anual de 12% do mercado de cafés especiais, também foi um dos fatores responsáveis por elevar a demanda por grãos de qualidade aumentando a pressão na produção.
Perspectivas e expectativas para o futuro do preço do café
Em virtude do cenário em que o café tem tido alta de seus preços e um contexto de incerteza perante as safras de 2025 e 2026, temos o aumento do preço pela expectativa da diminuição da oferta do grão devido também a projeções de queda na produção nacional em estudos realizados pela Conab. (CNN Brasil)
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Café, já nos primeiros meses do ano de 2025 são esperados reajustes entre 20% e 25% no preço do produto. “O varejo já vinha repassando ao consumidor os custos de produção ao pacote de um quilo, mas há entendimento da indústria de que existe a necessidade de novo ajuste”, apresentou Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic em uma entrevista para o canal Notícias Agrícolas.
Isso significa que produtores precisarão investir em novas práticas de manejo como:
- Sombras e sistemas agroflorestais para reduzir o impacto do calor;
- Novas variedades de café mais resistentes ao estresse hídrico e térmico;
- Práticas regenerativas que fortalecem o solo e aumentam a resiliência da lavoura.
A tendência é que o preço do café continue volátil, dependendo de novas previsões climáticas e das condições de oferta e demanda. Caso o Brasil e demais países produtores não consigam recuperar seus níveis de produção, os preços podem se manter elevados por mais tempo.
Os consumidores também têm um papel fundamental nesta questão. Escolher cafés de origem, que valorizam práticas regenerativas e o comércio justo, ajuda a garantir que a cadeia do café continue forte e equilibrada.
Artigo escrito por Eduardo Peruchi em colaboração com Henrique Galvani, CEO da Arara Seed.