O cenário das agfoodtechs no Brasil tem se destacado significativamente, com os anos de 2023 e 2024 mostrando um crescimento contínuo. Algumas das tendências de investimentos estão voltadas para as tecnologias de precisão, a digitalização do campo e a sustentabilidade.
O crescimento de investimentos em agfoodtechs no Brasil
De acordo com o mapeamento feito pelo Arara Tech Report 2024, os investimentos em startups do agro no Brasil foram positivos no ano de 2024. Um total de 41 startups mapeadas do agro, food e clima receberam investimentos, somando um total de R$ 1.160 bilhões, crescimento de aproximadamente 12% em relação ao ano de 2023.
Compondo os investimentos acima estão startups de diferentes estágios de desenvolvimento. Entre eles, destaca-se o estágio pre-seed, que envolve a definição de um problema, a validação inicial do projeto, a criação de um Mínimo Produto Viável (MVP) e a busca pelos primeiros investidores.
Em seguida, há o estágio seed, que engloba o lançamento do MVP, a conquista dos primeiros clientes, a obtenção de feedbacks sobre o produto ou serviço oferecido e a captação de um investimento semente para impulsionar o crescimento.
A fase de “tração” é conhecida como série A e consiste na estruturação do time, aumento da base de clientes e em captações para crescimento do negócio. Os estágios de “escala” são conhecidos como série B e série C e se caracterizam por uma expansão agressiva, otimização no mercado e parcerias ou aquisições estratégicas para o crescimento da startup.
Existe também o estágio de “maturidade” em que é composto por investimentos de série D ou mais, que é quando já existe a consolidação da startup no mercado, lucro sustentável e previsibilidade financeira, além de estratégias de abertura de capital público (IPO) e de possíveis fusões e aquisições com outras empresas.
Investimentos por estágios de captação
Ao analisarmos o estágio em que as investidas se encontram, percebemos uma postura mais madura por parte dos investidores. Isso se deve à necessidade crescente de busca por teses e modelos de negócios bem estruturados e consolidados no mercado.
Esse fator justifica a relevância dos investimentos em séries A e C, que juntos resultam em R$ 1.007 bilhões, impulsionados por aportes em startups como a Agrolend e a Agrion Agrisolutions.
Os investimentos em agtechs nas rodadas de série A e série C em 2024 refletem uma combinação de tendências econômicas, avanços tecnológicos e necessidades globais.
Entre esses fatores temos a presença do enfoque em ESG, em que investidores preocupados com o impacto ambiental e sustentabilidade enxergam agtechs com esses valores como boas oportunidades de investimento, e o interesse por tecnologias maduras, em que empresas oferecem tecnologias já testadas no mercado, como biotecnologia para sementes, inteligência artificial para gestão de colheitas ou softwares de rastreabilidade, atraindo investidores interessados em retornos mais previsíveis.
Os cases das maiores investidas no ano de 2024 são os da Agrolend, empresa que concede crédito sustentável a produtores de pequeno e médio porte e os pioneiros na produção de fertilizantes organominerais, e da Agrion Agrisolutions, e foram fundamentais para alavancar os setores que mais receberam investimentos dentro das agtechs em 2024.
Os segmentos de agfintechs (startups relacionadas a finanças e agronegócio) e o de biotechs (startups que utilizam biotecnologia para desenvolver soluções inovadoras para o agronegócio combinando biologia e tecnologia) dominaram o cenário de captação.
Logo em seguida no ranking das maiores captações, temos o setor de foodtechs que também esteve em ascensão nos últimos anos. A pandemia de COVID-19 acelerou a demanda por inovações no setor alimentar, como alternativas à base de plantas, alimentos funcionais e tecnologias de entrega mais eficientes. Startups que desenvolvem proteínas alternativas, como carne vegetal e cultivada em laboratório também estiveram em alta no ano de 2024.
Setores e tendências de investimentos de agtechs no Brasil
O setor de agtechs continuará sua trajetória de crescimento acelerado em 2025, impulsionado por inovações tecnológicas, mudanças nas demandas globais e a busca por soluções sustentáveis e eficientes para os desafios da produção agrícola. Alguns segmentos devem ganhar destaque especial, consolidando tendências que prometem transformar o futuro do setor.
1. Biotecnologia e agricultura regenerativa
A biotecnologia é um dos pilares para enfrentar os desafios climáticos e aumentar a produtividade de forma sustentável. Startups focadas no desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas, biofertilizantes e defensivos biológicos deverão atrair investimentos significativos.
Já a agricultura regenerativa, que promove práticas para restaurar solos e ecossistemas, ganhará tração, especialmente em mercados que buscam atingir metas de neutralidade de carbono.
Um exemplo de startup em crescimento nesse nicho é a Agroforestree, comprometidos com a regeneração florestal por meio do plantio de árvores com rastreabilidade e transparência.
2. SaaS e inteligência artificial
Plataformas de Software como Serviço (SaaS) integradas a soluções de inteligência artificial (IA) ganharão ainda mais espaço devido ao seu crescimento com o passar dos anos. Esses sistemas oferecem ferramentas para otimizar operações agrícolas, como:
- Análise preditiva de colheitas;
- Gestão de estoques;
- Controle de pragas;
- Monitoramento de solo.
A acessibilidade e a escalabilidade do SaaS permitem que produtores de diferentes portes adotem tecnologias avançadas sem a necessidade de infraestrutura própria.
Uma startup que tem se destacado por meio de software como serviço é a Agroboard.
3. Fintechs para o agronegócio
Essa tendência está diretamente ligada à digitalização do campo, contudo o financiamento rural continuará evoluindo com soluções inovadoras de fintechs especializadas. Plataformas que oferecem crédito rápido, seguros personalizados e ferramentas de gestão financeira para produtores devem atrair novos investidores.
Uma fintech inovadora do segmento em é a Arara Seed, o primeiro crowdfunding voltado para agtechs.
4. Tecnologias de rastreabilidade e ESG
A rastreabilidade na cadeia produtiva, combinada a iniciativas de ESG, atende à demanda crescente por transparência e sustentabilidade. Startups que desenvolvem tecnologias blockchain ou ferramentas para garantir a origem dos produtos agrícolas devem se manter entre as principais investidas no ano de 2025.
Agtechs consolidam seu papel na inovação no agro
Os investimentos em agtechs e foodtechs no Brasil em 2024 refletem um mercado em amadurecimento, com foco em soluções sustentáveis, inovação tecnológica e modelos de negócios mais estruturados.
O crescimento expressivo das rodadas de série A e C, impulsionado por aportes significativos em empresas como Agrolend e Agrion Agrisolutions, demonstra a confiança dos investidores em startups que já possuem validação de mercado e potencial de escalabilidade.
Além disso, o cenário futuro para 2025 aponta para uma expansão contínua, com destaque para setores como biotecnologia, rastreabilidade, inteligência artificial e fintechs voltadas ao agronegócio. O fortalecimento dessas tendências evidencia não apenas o avanço do setor agro no Brasil, mas também a importância de soluções que conciliam produtividade, tecnologia e sustentabilidade.
Dessa forma, o mercado de agtechs segue consolidando seu papel como um dos pilares da inovação no agronegócio brasileiro, atraindo cada vez mais investimentos estratégicos e contribuindo para o desenvolvimento de um ecossistema mais eficiente, competitivo e ambientalmente responsável.