O conceito de recuperação de pastagens e solos degradadas em geral está oferecendo soluções promissoras para transformar áreas inférteis em terrenos produtivos, garantindo sustentabilidade e segurança alimentar para as futuras gerações.
A degradação do solo é um dos maiores desafios enfrentados pela agricultura moderna. O uso intensivo das terras, aliado a práticas agrícolas inadequadas, desmatamento e mudanças climáticas, tem levado à perda de produtividade e à erosão da qualidade dos solos em todo o mundo. Siga com a leitura para saber mais sobre como o Brasil tem potencial para recuperar a saúde do solo.
Quanto de solos degradados temos no mundo?
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 33% dos solos do mundo estão moderadamente ou altamente degradados.
A estimativa de dois bilhões de hectares de solos degradados globalmente provém de estudos realizados por organizações como a FAO e a ONU.
Essas estimativas são comumente usadas em relatórios sobre segurança alimentar, sustentabilidade e mudanças climáticas. A FAO e a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) frequentemente publicam dados atualizados sobre a degradação dos solos e suas implicações para o meio ambiente e a agricultura.
O que causa degradação do solo?
A degradação pode ocorrer por erosão, compactação, salinização, perda de matéria orgânica e esgotamento de nutrientes. Esses fatores reduzem a capacidade do solo de sustentar a agricultura, impactando diretamente a produção de alimentos e a renda de agricultores, especialmente os pequenos e médios produtores.
Além dos impactos econômicos, a degradação do solo contribui para o aumento das emissões de carbono, pois solos degradados perdem a capacidade de sequestrar carbono de maneira eficaz. Isso agrava ainda mais os efeitos das mudanças climáticas, criando um ciclo de degradação ambiental.
Qual a quantidade de hectares em pastagens degradadas no Brasil?
O Brasil possui aproximadamente 28 milhões de hectares de pastagens degradadas com alto potencial para expansão agrícola, segundo a Embrapa. Essas áreas representam uma oportunidade significativa para aumentar a produção agrícola de forma sustentável, reduzindo a pressão para desmatamento.
A recuperação de pastagens degradadas, além de aumentar a eficiência produtiva, contribui para a conservação ambiental e o sequestro de carbono, alinhando-se a práticas de agricultura regenerativa e ao compromisso de mitigação das mudanças climáticas.
Pastagens são consideradas degradadas quando perdem a capacidade de produzir biomassa, o que não só reduz a oferta de alimento ao gado, mas também compromete a produtividade do solo. Essas áreas, com raízes enfraquecidas, diminuem a produção de folhas e limitam a retenção de água, contribuindo para erosão e perda de nutrientes essenciais.
Soluções para a recuperação de pastagens degradadas
A recuperação de terras degradadas exige uma abordagem integrada, que combine técnicas de restauração ecológica, manejo adequado do solo e inovação tecnológica. Algumas das principais práticas incluem:
- Agroflorestas: a integração de árvores no sistema agrícola é uma prática que não apenas melhora a qualidade do solo, mas também auxilia na conservação da biodiversidade e no sequestro de carbono. Modelos como os da Agroforestry Carbon, que combina plantio de culturas agrícolas com árvores nativas, têm se mostrado eficazes na regeneração de solos empobrecidos.
- Adubação verde: o uso de plantas leguminosas e outras espécies que enriquecem o solo com nutrientes essenciais, como o nitrogênio, melhora a fertilidade e estrutura a terra, promovendo um ambiente mais favorável ao cultivo de alimentos.
- Sistemas ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta): o modelo promove o uso eficiente do solo ao integrar atividades agrícolas, pecuárias e florestais em um mesmo espaço. O ILPF é um exemplo de inovação que potencializa a produção, ao mesmo tempo em que recupera áreas degradadas.
- Bioinsumos e fertilizantes naturais: o uso de bioinsumos, como os desenvolvidos por empresas como a SeaCarbon, oferece uma alternativa sustentável aos fertilizantes químicos. Eles melhoram a saúde do solo e reduzem a dependência de produtos químicos, recuperando a fertilidade de áreas em processo de degradação.
- Tecnologia de sensoriamento e mapeamento do solo: ferramentas de alta tecnologia, como as desenvolvidas por empresas como Quanticum, que analisam a saúde do solo e sugerem práticas adequadas para sua recuperação, estão mudando a forma como os agricultores manejam suas terras. A utilização de dados precisos permite um manejo mais sustentável e eficiente.
O mercado de recuperação de pastagens degradadas
O mercado de tratamento de solos abrange empresas que desenvolvem e fornecem soluções para melhorar a qualidade do solo, por meio de produtos e serviços que otimizam suas propriedades.
O principal objetivo é promover o crescimento saudável de plantas e aumentar o rendimento das colheitas com soluções que visam resolver problemas relacionados à carência de nutrientes, baixa capacidade de retenção de água, desequilíbrio de pH, deficiência de atividade microbiana, compactação, entre outros fatores que prejudicam a saúde do solo e afetam a capacidade produtiva.
Segundo o IMARC Group, o tamanho do mercado global de tratamento de solos foi de US$ 43,1 bilhões em 2023, podendo alcançar os US$ 68,1 bilhões até 2032, exibindo uma taxa de crescimento (CAGR) de 5,1% durante 2024-2032.
Isso se reflete pela crescente adoção de métodos sustentáveis e orgânicos de tratamento de solo e a integração de tecnologias digitais para monitoramento em tempo real e tomada de decisão baseada em dados em processos de tratamento de solo, que são alguns dos principais fatores que impulsionam o crescimento do mercado.
O gráfico abaixo, elaborado pela Cohrent Market Insights, fornece uma visão geral da expansão global do mercado de tratamento de solos, sendo impulsionado pelo crescimento populacional e pelas crescentes preocupações ambientais, fatores de alto impacto positivo no setor.
No entanto, enfrenta-se desafios significativos, como os altos custos de implementação e a baixa adoção de tecnologias por pequenos agricultores, que limitam o crescimento com impacto médio-alto.
Apesar dessas restrições, há oportunidades promissoras no desenvolvimento de biofertilizantes e biopesticidas, bem como no crescimento da agricultura de precisão, que pode impulsionar ainda mais o mercado, oferecendo soluções tecnológicas avançadas para otimizar o manejo do solo e melhorar a produtividade agrícola.
Benefícios econômicos e ambientais da recuperação de pastagens
A recuperação de terras não só devolve a produtividade agrícola, mas também traz uma série de benefícios ambientais. Solos saudáveis contribuem para o ciclo hidrológico, melhoram a biodiversidade local e ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono.
Para os agricultores, a recuperação do solo significa maior resiliência a condições climáticas extremas, como secas ou inundações, além de um aumento significativo na produtividade e renda.
Nesse cenário, o manejo sustentável de terras é uma oportunidade econômica para empresas e startups do setor agro, que podem desenvolver tecnologias e práticas inovadoras para restaurar solos degradados e aumentar a capacidade de produção de alimentos.
Além disso, existe outra oportunidade econômica dentro do mercado de recuperação de terras que está atraindo o olhar de investidores: a compra de terras desgastadas para tratar e recuperar o solo, seguida da venda com a valorização do ativo.
Tendências e o futuro da recuperação de pastagens
Dentre as possibilidades e tendências do agronegócio, a promoção da sustentabilidade e as práticas regenerativas são atividades que se tornam cada vez mais presentes e demandadas, de forma que não são mais assuntos passageiros ou apenas posicionamento de marketing, elas estão se tornando um requisito para bons negócios, principalmente pela recorrência dos impactos das mudanças climáticas e maior conscientização da população.
Dito isso, no mercado de recuperação de pastagens existe um movimento crescente de investimento em terras agrícolas desgastadas, por ter uma ótima possibilidade de retorno.
A gestora Paramis também lançou um Fiagro dedicado a comprar terras degradadas. Com foco em investidores de alta renda, principalmente estrangeiros interessados em participar do processo de crescimento do agro brasileiro, ela tem como objetivo mapear áreas degradadas no Cerrado, comprar essas terras, investir na recuperação do solo e, por fim, realizar o plantio de soja ou utilizar a área para a criação de gado. Do total de 140 milhões de hectares degradados no Brasil, cerca de 60% ficam no Cerrado (Metrópoles).
Entre as oportunidades de investimento, há também agtechs que fomentam esse modelo de negócio, como a Fazendas S/A. Essa agfintech brasileira adota a estratégia de aquisição e recuperação de terras degradadas para gerar rentabilidade, com foco em facilitar o acesso de pequenos investidores ao mercado agropecuário.
A Fazendas S/A permite que esses investidores adquiram participações na compra das fazendas de pasto degradado, dessa forma, ela conecta investidores que, em conjunto, financiam a compra e recuperação das propriedades e gerando valorização e lucratividade para seus acionistas. Com mais de 12 mil hectares adquiridos e 5 mil hectares já transformados, a startup visa democratizar o investimento no agronegócio, gerando tanto alta rentabilidade quanto impacto ambiental positivo.
Brasil pode ser nome forte na recuperação de pastagens
O Brasil tem um enorme potencial para transformar suas áreas de pastagens degradadas, somando cerca de 28 milhões de hectares, em terras produtivas para a agricultura.
Essa recuperação não só promove a sustentabilidade e o aumento da produtividade agrícola, como também ajuda a mitigar as mudanças climáticas ao sequestrar carbono e evitar novos desmatamentos. Com práticas regenerativas e inovadoras, o país pode expandir a agricultura de forma responsável, preservando a biodiversidade e impulsionando a economia agropecuária.
O futuro da agricultura depende da capacidade de regenerar os solos e utilizar os recursos naturais de forma consciente, garantindo que a produção agrícola possa continuar alimentando o mundo de forma equilibrada e responsável. A recuperação de pastagens envolve novas tecnologias e práticas regenerativas e necessita do fortalecimento de iniciativas de sustentabilidade no campo para que possa ser criada uma sinergia entre a pecuária eficiente, agricultura otimizada e a preservação ambiental.